É burrice querer que Manuela Dias não mude tramas no remake de 'Vale Tudo'

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Todo mundo que acompanha os bastidores da televisão sabe que manifestações e críticas de usuários de redes sociais representam uma parcela muito pequena do público da TV aberta. Embora esteja longe de ser um retrato fiel do espectador médio, a galera do X (antigo Twitter), Instagram, TikTok e similares faz um barulho que ecoa para fora da internet, pauta os meios de comunicação e dá a falsa impressão de que tudo que eles postam reflete o que a maioria da audiência pensa.
Quando o assunto é o remake de "Vale Tudo", a implicância atual das redes sociais é a alteração de algumas tramas da novela original. Há uma certa campanha para que a nova versão siga ipsis litteris o desenvolvimento do folhetim exibido em 1988.
A expectativa para que essa fidelidade exista não faz qualquer sentido. Em primeiro lugar, houve uma mudança gigantesca na sociedade do fim dos anos 1980 para os dias de hoje. Comportamentos e visões de mundo se modificaram. Por mais que a essência da história de "Vale Tudo" seja atual, é preciso rever os perfis e os arcos de personagens para que eles dialoguem com o público atual e consigam levantar debates que sejam relevantes em 2025.
Outro ponto que justifica que o remake não seja uma reprodução exata de "Vale Tudo" de 1988 é o fato de a novela original estar disponível no Globoplay. Qual a razão de produzir uma nova versão da trama se ela será idêntica ao que está disponível no streaming da Globo?
Além disso, quando se opta por fazer um remake, é esperado que o profissional incumbido dessa missão um tanto ingrata insira de alguma maneira sua marca. Manuela Dias tem buscado colocar sua identidade em "Vale Tudo" e é bom que ela o faça. Uma das modificações da autora que deixou a novela mais interessante e repercutiu com os espectadores foi a questão da pensão alimentícia da personagem Lucimar (interpretada pela ótima Ingrid Gaigher).

O já anunciado romance entre Solange (Alice Wegmann) e Renato (João Vicente Castro) é outra mudança que soa muito pertinente. Nos tempos atuais, Afonso (Humberto Carrão) não parece ser o homem ideal para a diretora de conteúdo da Tomorrow. Mimado e indeciso, o herdeiro da família Roitman tem tudo para ser um relacionamento tóxico no currículo amoroso de Solange. É necessário que haja um novo par romântico para a personagem para que ela não fique presa numa história que não faz mais tanto sentindo em 2025.
Algumas alterações, entretanto, não mostraram a que vieram ainda, como o fato de Solange ser diabética. A doença da personagem não gerou nenhum grande desdobramento na história, mas tem potencial de ser um catalisador de conflitos.
No meio desse barulho causado pelas redes sociais por conta dos rumos de "Vale Tudo", eu tenho certeza sobre um fato: se Manuela Dias tivesse optado por não promover qualquer modificação ou houvesse feito alterações muito discretas, certamente, ela também seria vítima de críticas da galera das redes sociais que a acusa de deturpar a obra original.
Precisamos ver "Vale Tudo" como uma nova novela e não como um produto feito pela Globo para atender nossa memória afetiva. As qualidades da versão atual só serão notadas se houver um distanciamento emocional. A "Vale Tudo" de Manuela Dias pode ter tanto a nos oferecer quando a original escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. Precisamos deixar a narrativa fluir e a autora trabalhar.
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