Ricky Hiraoka

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Opinião

Não podemos normalizar a defesa elitista de Maya Massafera sobre a magreza

Ano passado, quando as redes sociais fervilhavam sobre como seria a voz de Maya Massafera, que ainda não tinha publicado nenhum vídeo falando após sua transição de gênero, um usuário do X (antigo Twitter) foi muito sagaz ao fazer uma observação que, salvo engano, era assim: "Está todo mundo curioso para ouvir a voz de alguém que nunca teve nada a dizer".

Há meses, a voz de Maya Massafera não é mais segredo para ninguém, mas seria muito interessante se suas opiniões permanecessem ocultas. Num vídeo publicado recentemente, ela defendeu sua magreza, que vem sendo alvo de comentários dos seguidores, afirmando que "Gente rica ou francesa, ou que entende muito de moda, é apaixonada por magreza. Então assim, eu não estou nada magra para eles ou para brasileiros da elite. Agora, gente mais simples vai me achar magra!"

Quem precisa que esse tipo de declaração seja feita em alto e bom som?

Primeiro, vale ressaltar que não devemos avaliar o corpo e a aparência dos outros sem que nossa opinião seja requisitada. Maya tem o direito de estar como se sente confortável. Entretanto, não podemos normalizar o discurso de que magreza é uma característica valorizada pelo mundo da moda e pelos ricos, porque esse tipo argumento favorece a perpetuação de padrões de beleza excludentes.

Numa sociedade que cada vez mais sofre com questões ligadas à saúde mental por conta da dinâmica de comparação a que as pessoas se submetem nas redes socias, é, no mínimo, irresponsável uma figura pública com milhões de seguidores ver a magreza como um status ou um objeto de desejo necessário para que alguém ocupe um determinado lugar na sociedade ou seja bem quisto em algumas rodas.

Há alguns anos, a sociedade vem lutando para ampliar o conceito do que é ser bonito para contemplar as diferenças, e é decepcionante que uma mulher que circula no meio da diversidade e faz parte da comunidade LGBTQIPNA+ propague esse tipo de ideia.

Para embasar seu pensamento de que os ricos compreenderem melhor a magreza que os pobres, Maya citou seus estudos no Instituto Marangoni, na Itália. Numa lógica bem elitista, ela praticamente insinua que o conhecimento que adquiriu nessa temporada de estudos não está acessível a todos e, por isso, as pessoas não alcançam sua linha de raciocínio. Ao ver todo vídeo de Maya e sua defesa acadêmica sobre seu discurso, me veio à mente a famosa frase do educador Paulo Freire: "Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor".

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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