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Renata Corrêa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Matrix Resurrections é deliciosa farofa new age sci-fi

Neo (Keanu Reeves) e Trinity (Carrie-Anne Moss) em "Matrix Resurrections" - Divulgação/Warner Bros.
Neo (Keanu Reeves) e Trinity (Carrie-Anne Moss) em 'Matrix Resurrections' Imagem: Divulgação/Warner Bros.

Colunista do UOL

28/12/2021 15h56

Espremido entre o sucesso esmagador de "Homem Aranha - Sem Volta Pra Casa" e o kikiki causado pelo elenco estelar da comédia-catástrofe "Não Olhe Pra Cima", Matrix - Resurrections ficou jogado para escanteio. Mas não devia.

A continuação da franquia Matrix retorna com tudo que os filmes têm de melhor: a ação farofa, os debates filosóficos de botequim, o sci-fi new age, mas principalmente, o romance.

Apesar de ser um aspecto pouco discutido dos filmes das irmãs Wachowski, o romance sempre foi a pedra fundamental da obra das diretoras, e agora em vôo solo, Lana Wachowski não decepcionou. No primeiro Matrix, Neo desperta da morte com o beijo do amor verdadeiro de Trinity, e só assim, existe a confirmação de que ele é o escolhido para acabar com a guerra das máquinas contra os humanos; em Matrix Reloaded, Neo retribui a gentileza fazendo uma massagem cardíaca no corpo virtual de Trinity, a salvando da morte. Já em Matrix Revolutions o casal parte em missão suicida e dá a vida para salvar Zion.

Matrix Resurrections não é diferente - o clímax gira em torno do amor do casal protagonista, que volta a ficar preso na Matrix, sem lembrança do passado, vivendo vidas convencionais e angustiantes. Escapar da Matrix é reencontrar o amor, mas não o amor romântico jovem e impulsivo. O amor de um coroa cheio de problemas de identidade e uma soccer mom com três filhos pentelhos e um marido controlador. Neo e Trinity passaram por muita coisa, cresceram, amadureceram, mas ainda têm sonhos, pois afinal, sonhos não envelhecem.

Com coragem para comentar o passado da fraquia com humor e autocrítica e atualizando os debates sobre a apatia da vida moderna (destaque para o "enxame" e o hiperviolento ataque de bots suicidas) Matrix 4 diverte os fãs dos três filmes anteriores, mas também se sustenta como obra independente fazendo o caminho oposto do cinismo vigente. Para Lana Wachowski, a única maneira de acordar do binarismo, do ódio e do automatismo é seguindo o coração, mesmo que o corpo esteja coberto de roupas de látex e com uma submetralhadora em cada mão.

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