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Pedro Antunes

O dia em que Peppa Pig superou de Beatles a Guns N' Roses

Colunista do UOL

06/08/2021 11h36

"O segundo álbum do fenômeno pop de quatro anos de idade e famosa porquinha é uma segura e charmosa celebração sobre a família, amizade e poças de lama"

Assim o site norte-americano conhecido por ser a maior referência de críticas de música do mundo, a Pitchfork, anunciou o texto a respeito do segundo álbum da Peppa Pig, intitulado "Peppa's Adventures: The Album", lançado em 2021.

Destrinchado pelo autor Peyton Thomas, o disco da simpática personagem dublada pela inglesa Harley Bird na versão original levou a honrosa nota de 6,5 na avaliação final (a nota máxima é 10 e raríssima).

Famoso também pela polêmica nas suas notas (por dar pontuações altas para discos mequetrefes e dar notas péssimas para aclamados álbuns), a Pitchfork aprontou mais uma.

Se a nota 6,5 não era suficiente para deixar sua mãe contente nos tempos de escola (a não ser que fosse em um após um teste de física, é um notão nos padrões cricris do site.

Veja alguns exemplos de álbuns que tiveram notas piores do que esta:

  • "Audioslave", do Audioslave: nota 1,7
  • "I'm With You", do Red Hot Chili Peppers: nota 4,0
  • "Echoes, Silence, Patience and Grace", do Foo Fighters: nota 4.2
  • "Chinese Democracy", do Guns N' Roses: nota 5,8
  • "Era Vulgaris", do Queens of the Stone Age: nota 6,2
  • "Yellow Submarine", dos Beatles: nota: 6,2
  • "Discovery", Daft Punk: nota: 6,4

No Twitter, o pessoal se desesperou.

São camadas e mais camadas de ironia e sarcasmo publicadas junto dessa avaliação elogiosa. A Pitchfork é famosa por "dar recados" com suas notas, como como na famosa crítica ao álbum da banda Jet, o "Shine On", de 2004, que trazia apenas o vídeo de um macaco bebericando a própria urina. Urg!

Neste caso, o jab vai direto no queixo da crítica musical, tão autoindulgente, autossuficiente e egocêntrica. É um cruzado no excesso rigidez e de regras na avaliação de uma música, algo tão propositalmente subjetivo.

E também é um golpe nas costelas da indústria fonográfica e à pasteurização completa da música pop, na qual um disco de uma personagem pode ser tão bom quanto um álbum dos Beatles, saca?

É também um sopapo no ódio e na birra da web. De irritar a patrulha da moral e dos bons costumes que proíbe opiniões tresloucadas e detestam ideias que fogem do zeitgeist.

Se os Beatles poderiam imaginar uma viagem psicodélica debaixo d'água a bordo um submarino amarelo, porque não podemos viajar na ideia dessa porquinha de que ri com "roinc-roinc" entre seus versos e ama poças de lama?

Talvez, para alguém, as aventuras musicais da Peppa Pig sejam até mais interessantes ou brilhantes. Por que não?