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Pedro Antunes

Longão #4: Por que The Weeknd e Billie Eilish agora cantam em espanhol?

Billie Eilish canta no Grammy em 26 de janeiro de 2020 - Emma McIntyre/Getty Images for The Recording Academy
Billie Eilish canta no Grammy em 26 de janeiro de 2020 Imagem: Emma McIntyre/Getty Images for The Recording Academy

Colunista do UOL

28/03/2021 21h34

Se você está interessado em alguém e não sabe como dizer isso - ou talvez queira manter o mistério, eu entendo - arrisque usar a música "telepatía", da estadunidense com origens colombianas Kali Uchis, nos stories do Instagram, no Twitter ou até no Facebook (caso o/a crush tiver mais de 40 anos).

"Quién lo diría
Que se podía hacer el amor
Por telepatía"

(Em tradução livre, seria algo como: "Quem diria que era possível fazer amor por telepatia")

Um aproach mais direto é enviar o link da música no YouTube ou Spotify por WhatsApp (usar o aplicativo de troca de mensagens para o amor é muito melhor do que encaminhar aquelas inverdades sobre "tratamento precoce" e outras bobagens que recebemos encaminhadas por lá).

Em suma, a ideia de usar "telepatía" é porque a música é bem direta e fala sobre cositas calientes (perdão o portunhol) e também mostrará ao/à crush como você está ligado no gênero mais em alta na música mundial, que é o tal pop "latino", escrito assim, entre aspas, porque é generalista (para os estadunidenses, se fala espanhol, é "latino", e se é dançante, é "pop").

Kali Uchis é uma das grandes artistas da música em língua espanhola a dominar as paradas mundiais. A música, "telepatía", é a quarta mais ouvida no mundo atualmente no Spotify. E o vídeo, lançado em 18 de março, é o 50º do Top 100 do YouTube.

Não é pouco, né?

E, embora não seja confirmado, Kali Uchis está revitalizando e apresentando ao resto do mundo uma modalidade de transa criada aqui o nosso Brasil pela icônica e rainha da p**** toda Rita Lee, em "Mania de Você": "A gente faz amor por telepatia".

Ouça Kali Uchis antes da gente seguir no nosso papo (que hoje vai ser especialmente longo):

Bem-vindos ao quarto Longão. Aos domingos, sem horário definido, publico textos mais longos, analíticos ou reportagens. É o espaço que dedico a esvaziar a cabeça dos fantasmas criativos escrevendo uma tonelada de letras numa página em branco antes de começar uma nova semana e passar a acumular essas palavras todas na minha cabeça.

Também é o lugar onde debato temas quentes da semana, como aquela vez em que Adam Levine disse se sentir sozinho e não ver mais tantas bandas como antigamente, reflito sobre o Grammy e o "vasco-da-gamismo" da indústria musical e sobre como a gente quase matou uma geração da música pop que está lutando para chegar aos 30 anos de idade com sanidade e saúde.

São também nestes Longões que recebo aquela tonelada de ameaças e xingamentos via mensagem privada no Instagram (alô, vascaínos!).

Como é bom começar a semana assim, não é?

Vamos então, meus latinos?

Dois anos depois de lançar o melhor disco da carreira, "Purpose" (de 2015), o canadense Justin Bieber ouviu um som durante sua passagem pela Colômbia em turnê capaz de arrepiar a franja e os cabelos loiros do rapaz.

Era a tão conhecida hoje "Despacito", na versão original cantada pelo cantor porto-riquenho Luis Fonsi e com a participação de Daddy Yankee. Pediu à gravadora Universal Music para fazer um remix da música.

A versão com Bieber tem o cantor cantando em inglês e também em espanhol e, de alguma maneira, é considerada um marco a dominação da música latino-americana em todo o mundo.

Bieber gastou seu espanhol em 2017. Anitta também, com "Downtown", hit reggaeton quentíssimo com J Balvin. Depois, em 2018, Ouvimos Drake arranhar alguns versos na língua em "Mia", com o fenômeno também porto-riquenho Bad Bunny.

Estamos nesta temporada de 2020/2021 (com a pandemia, todos os dias se confundem, afinal) e outros muitos artistas da música pop cantada em inglês passaram a integrar o time daqueles que se arriscam no espanhol, como Billie Eilish, The Weeknd, Selena Gomez e até Snoop Dogg.

Quer mais dominação hispânica? Dependendo do país, você pode pedir um "combo J Balvin" no McDonald's (ele é somente o segundo artista com menos de 30 anos ter um combo próprio; o outro foi o Travis Scott). A espanhola Rosalía é a embaixadora global da marca de cosméticos MAC. Já Maluma contracenou com Jennifer Lopez e Owen Wilson no filme "Marry Me", previsto para ser lançado em fevereiro de 2022. E, por fim, o artista mais ouvido no Spotify em 2020 foi o porto-riquenho Bad Bunny.

Por qual motivo esses ídolos estão gastando seu dinheirinho em aulas particulares de espanhol?

Dinheiro, é claro.

Resposta curta demais? Calma, há uma explicação mais longa para isso, também.

Primeiro, é importante lembrar que a música cantada em espanhol tem um histórico sazonal no mercado dos Estados Unidos, sempre a partir de uma ótica colonizadora, do país como o bastião da cultura mundial.

Nos anos 50, o "Mambo No. 5", escrito pelo cubano Dámaso Pérez Prado, fez algum barulho por lá, assim como a "La Bamba", de Ritchie Valens, que também foi ressuscitada pelos Los Lobos na década de 1980 e até hoje faz a turma de cabelos brancos dançar em casamentos e festinhas de 15 anos.

Quer entender o problema gigante (geograficamente falando, além de ser socialmente problemático) que é reduzir tanta música cantada em espanhol como "pop latino"?

O historicamente grande nome do pop latino é espanhol (puts, né?), nascido do outro lado do oceano Atlântico. Estou falando de Julio Iglesias, cantor charmoso que conquistou os Estados Unidos graças aos botões desabotoados da camisa que deixava o peito cabeludo aparente e pela voz aveludada a cantar baladas românticas (os motivos da conquista não ocorreram, necessariamente, nesta ordem).

Outros nomes surgiram com força ao longo dos anos, como Gloria Estefan, Shakira e Enrique Iglesias. Não lideraram um "movimento", em um significado mais amplo, mesmo, de dar voz às mais diversas culturas que são resumidas no termo "latino". Eram sucessos isolados, alguns mais duradouros, caso de Shakira, e outros com altos e baixos, caso do Enriquito.

2017, o ano que mudou tudo?

Sim, mas nem tanto.

Foi neste ano que Bieber relançou "Despacito", que foi um estouro, mas havia um movimento gigantesco sendo construído na música popular que levava artistas de países latino-americanos a despontar nas cenas locais, regionais e até nos Estados Unidos.

A imigração de latinos para os Estados Unidos é parte fundamental para entender a dominação atual.

  • Em 2019, por exemplo, eram 60,1 milhões de pessoas hispânicas nos Estados Unidos, de um total de 328 milhões de habitantes.
  • A título de comparação, em 2000, o número era quase a metade disso, 35 milhões de pessoas, no total de 282 milhões.
  • Se em 2000, a população hispânica representava 12% do total, 19 anos depois, ela cresceu para 18%.

Mais do que os números absolutos, ao longo dos vinte anos, a cultura hispânica foi completamente absorvida pelos Estados Unidos, em um processo inverso das outrora colonização cultural promovida pelo país do McDonald's e Coca-Cola, que aprendeu a comer tacos (reduzindo bem essa parte, mas é que temos um longo caminho a percorrer até chegarmos na temporada de 2020/2021).

Há também de se considerar que essas famílias hispânicas foram constantemente maltratadas pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. É batata: quanto mais uma população é atacada, mais unida e forte ela se torna para combater a opressão. Quer dizer, de alguma maneira, a xenofobia de Trump tornou a cultura hispânica mais poderosa, unida e relevante.

Voltando ao tema da coluna, antes mesmo de Bieber cantar enroladamente um espanhol em "Despacito", o mercado já via as músicas hispânicas com bons olhos. A começar, possivelmente, por "El Perdón", uma música de Enrique Iglesias (ele mesmo, de novo!) com Nicky Jam (estadunidense com descendência de Porto Rico).

A música foi apontada por especialistas como um dos marcos iniciais deste levante latino-americano na música pop. É um reggaeton mais pasteurizado para gostos norte-americanos, sem tanto tempero, sabe?

Segundo uma entrevista do então presidente da Sony Music Nir Seroussi à Rolling Stone EUA, o lançamento desta música foi o grande momento para que o mercado entendesse o poder do streaming e da divulgação da música hispânica.

Vale acrescentar "Me Rehúso", de Danny Ocean (não confunda com o personagem de George Clooney em "11 Homens e um Segredo", ok?), cujo vídeo, hoje, tem mais de 1,4 bilhao de visualizações no YouTube), lançada em 2016 e que também funcionou muito bem com o público estadunidense.

A virada para chegarmos ao ponto de ouvirmos The Weeknd e Billie Eilish passando uma vergonha de leve e saindo da zona de conforto deles ao cantarem em espanhol ao lado da fenomenal voz do pop flamenco Rosalía, foi a popularização do formato da música por streaming. E é aqui que quero chegar.

Efeito streaming

Mais do que falar de "Efeito Despacito", a possibilidade de ouvir uma canção em qualquer lugar do mundo, com alguma conexão com a internet, revolucionou a forma de consumir música. Álbuns perderam força para o consumidor, os singles (músicas lançadas sozinhas) passaram a ser o padrão para "bombar".

Hits de "pop latino" aumentaram 75% e 80% no YouTube nos anos de 2015 e 2016, respectivamente.

Segundo uma empresa que faz pesquisa de dados e informações de consumo de música, a BuzzAngle, 95% do consumo de música latino-americana nos Estados Unidos em 2018 vinha de plataformas de streaming e somente 5% veio de compras da versão física.

Sabe o que isso significa? Que era um público muuuuito jovem já educado musicalmente por essa nova plataforma de música infinita, sem barreiras geográficas.

Três fatores levaram a música hispânica a crescer na era do streaming, além da qualidade do som:

  • 1) Países da América Latina rapidamente aceitaram as plataformas de música streaming por serem uma alternativa aos preços altos dos álbuns físicos e menos complexa do que os meios ilícitos de se ouvir música
  • 2) Os artistas latino-americanos entenderam o poder das participações e o troca-troca de fandoms. O bom e popular "feat" junta fã-clubes e aumenta o poder das músicas turbinando os números de streams.
  • 3) Velocidade. A turma sacou que, no mundo do streaming, é importantíssimo lançar MUITA música, com uma distância temporal curta entre elas. Isso foi inclusive confirmado pelo presidente do Spotify, Daniel Ek, em 2020, e gerou certa polêmica à época (afinal, músicos são artistas ou montadoras de automóveis?). Ozuna, um dos reizinhos do reggaeton, teve 12 músicas, entre músicas próprias e participações, que entraram no top 25 do Spotify ao longo de 2017. É muita música. Suponho, inclusive, que esse rapaz não deve ter dormido naquele ano.

Claro, 'Despacito' foi importante

Não estou desprezando a música - até porque, tenho ótimas lembranças de, em 2017, ouvir a faixa em todos os lugares numa viagem que fiz a Cuba (podem enviar mensagens de "volta pra Cuba" que eu gosto, inclusive) -, mas é importante mostrar contextos e evitar taxar a canção (que é ótima!) como a única responsável por esse movimento de música pop cantada em espanhol.

O ano de 2017 foi determinante para a mudança, é verdade. O clipe da música, sem a participação de Bieber, se tornou o vídeo mais assistido de todos os tempos do YouTube com 6 bilhões de visualizações - o atual líder é um com uma dancinha de "Baby Shark", risos.

Mas "Despacito" não estava sozinha, como muita gente pensou. Na lista Billboard Hot 100, das cem músicas mais ouvidas naquele ano, 17 eram latino-americanas. Em 2016, forma quatro músicas. E, no ano anterior, foram três.

O salto foi enorme, percebem?

No Spotify global, a música hispânica cresceu 110% naquele 2017. O hip-hop, por sua vez, teve um crescimento de 74%. No Top 50 global da plataforma ao final do ano, vimos 10 música cantadas em espanhol, um recorde para a época.

Quer mais dados? Então toma (sim, passei dias pesquisando essa história): no YouTube, 6 dos 10 artistas mais assistidos globalmente em 2017 eram hispânicos - em 2016, era somente um artista.

Não é por acaso, por exemplo, que a Rolling Stone EUA escreveu uma longa reportagem em 2017 sobre a "dominação latina" na música que estava por vir em 2018 (para ler a íntegra, em inglês, está aqui). A RS Gringa pode ter decretado o início da dominação naquela virada de 2017 para 2018, mas ela não parou por aí. Chegamos aqui, quatro anos depois, com o pop hablando cada vez mais espanhol.

    E, então, chegamos em 2020

    Este ano foi quase tão importante quando 2017 para essa história que vivemos ahora.

    O 2020 começou com Shakira e Jennifer Lopez como as headliners de um importante e até histórico show no Super Bowl, o evento esportivo mais assistido do mundo. Convidaram ainda nomes dos mais populares desta onda o reggaeton, J Balvin e Bad Bunny.

    Ainda no ano passado, a música "Hawái", de Maluma, foi a primeira faixa cantada em espanhol a liderar o inédito ranking global da Billboard, o Billboard Global Excl. U.S. (que contabiliza as músicas ouvidas no mundo todo, menos nos Estados Unidos), o que prova que a dominação da música em espanhol vai muito além das fronteiras estadunidenses.

    Ao fim daquele ano pandêmico, 40 músicas cantadas proeminentemente em espanhol estavam Hot 100 da Billboard (em 2019, foram 19). E Bad Bunny, já citado aqui neste texto, era consagrado como o artista mais ouvido do mundo no Spotify. O álbum dele, "El Ultimo Tour Del Mundo", se também tornou o primeiro disco totalmente em espanhol a ficar no topo do ranking Billboard 200.

    O que esperar de 2021?

    Foi importante dar a você, bravo leitor e leitora que chegou até aqui, o contexto da música hispânica até 2020 antes de trazer os dados novos.

    Devem ter reparado que, nesta semana, diferentes portais de notícias (UOL, inclusive, na coluna do sempre atento Guilherme Ravache) publicaram matérias a respeito do mercado da música mundial.

    O motivo da movimentação toda é o relatório do IFPI (sigla do nome em inglês para a Federação Internacional da Indústria Fonográfica). Bastante didático, relatório tem o título de "O Estado da Música" e mostra as tendências para 2021 com base no que foi analisado e coletado de dados do ano passado.

    E eu, que estava com esse texto já na cabeça (de "por que os astros do pop estão cantando em espanhol?"), encontrei ali o gancho e o reforço para concretizar minha teoria.

    O mercado latino-americano é, atualmente, o mais desejado pela indústria. Simples assim.

    Somos tipo aquela bola pingando sozinha na área com o gol vazio. Todo mundo quer fazer esse gol.

    Segundo o IFPI, os lucros do mercado fonográfico nos países da América Latina cresceram 15,9% em 2020. Foi muito maior do que o crescimento de 2019, que era de 3,3% de 2019, e maior do que todas as outras regiões do mundo.

    1. 15,9% - América Latina
    2. 9,5% - Ásia
    3. 8.4% - África e Oriente Médio
    4. 7,4% Estados Unidos e Canadá
    5. 3,5% - Europa
    6. 3,3% - Oceania

    O mercado de streaming por aqui, no continente, também cresceu 30,2% em relação ao ano passado (e representou 84,1% de todos os lucros gerados pela indústria fonográfica no ano). Ou seja, além de ter o maior potencial de lucro, o mercado latino-americano também é "barato", por muito amparado já pelo streaming.

    Com a entrada dos artistas hispânicos no mercado da música pop dos Estados Unidos, o mercado tenta inverter o jogo e encaixar os seus artistas no nosso mercado local - e também dialogar melhor com a crescente e mais influente comunidade hispânica que vive dentro das próprias fronteiras.

    Como falou Simon Robson, presidente do Warner Music Group, à IFPI:

    "O crescimento global da música da América Latina, por sua vez, continua a um ritmo acelerado. Foi talvez a primeira região não-tradicional a emergir como uma força comercial e influenciadora cultural em todo mundo e, agora, está estabelecida como um marco no mainstream em todos os continentes."

    Não gostei muito desse lance de "ser uma região não-tradicional", mas vá lá...

    Já Iñigo Zabala, presidente da divisão latina e ibética da Warner Music, diz:

    "A América Latina continua sendo o mercado musical que mais cresce no mundo. É importante lembrar que o crescimento é alimentado por artistas de uma enorme variedade de gêneros, do folk mexicano ao trap argentino. Investimos muito na expansão de nossas playlist locais, mas também colocamos um foco estratégico em incentivar a colaboração entre artistas de toda a região e além dela. À medida que o mundo se reabrir, os artistas da região poderão se beneficiar de ainda mais oportunidades e o futuro para nossa indústria parece brilhante."

    Artistas citados neste relatório como dominantes do mercado são J Balvin, Karol G e Sebastián Yatra. Também foram elogiados os novatos Aitana (Espanha), Jhay Cortez (Porto Rico), Danna Paola (México) e Luísa Sonza (Brasil).

    Todos querem uma fatia do nosso bolo

    Se, em 2020, as músicas do chamado gênero "pop latino" foram ouvidas 39,75 bilhões de vezes no Spotify (segundo o estudo da Nielsen Music/MRC Data), em um crescimento de 26,4% se comparado com o ano anterior, e vencendo outros gêneros como country (21,8%), R&B e hip-hop (15,3%), pop (11,6%) e rock (10,7%), é claro que o mercado ficaria de olho neste público, também.

    Se o artista gringo não tem o molejo necessário para cantar em um ritmo de reggaeton, ele traz algum desses artistas do gênero para uma participação. Vale tudo para alcançar essa massa. The Weeknd, por exemplo, arriscou (e derrapou) em espanhol na ótima "Hawái", de Maluma.

    Mas o cantor de R&B arrasou ao convocar Rosalía para cantar uma versão hispânica de "Blinding Lights", que soa como veludo.

    Houve quem não gostou muito da fluência de Billie Eilish, também, na música "Lo Vas A Olvidar", outro feat com Rosalía (aliás, a cantora espanhola merece um Longão só dela)

    Valorizem os artistas hispânicos

    Claro, os grandes nomes do pop querem um pedacinho do mercado latino-americano, mas, ao mesmo tempo, existem ótimos artistas locais que merecem uma audição.

    Destaco a já citada aqui Rosalía e a fenomenal Kali Uchis (que já cantou com Tyler, The Creator) e lançou o álbum "Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios)", para começar. Depois, vá para nomes como do pop de Karol G e Piso 21, a doiderinha delícia de C. Tangana, o reggaeton com trap de Jhay Cortez e o romance de Rauw Alejandro.

    E, claro, mantenha a atenção em J Balvin e Bad Bunny, porque eles ainda serão ainda maiores.

    Como quatro anos mudam tudo?

    É muito louco pensar como quatro podem mudar tudo (e não estou falando das Copas do Mundo, ok?). Vamos lembrar de 2016, quando Donald Trump fazia uma campanha para a Casa Branca com um discurso xenófobo e machista.

    Ele se elegeu nos Estados Unidos com um discurso de construir um muro nas fronteiras do sul do país para evitar a entrada de imigrantes ilegais. Sim, ele queria construir um muro entre os EUA e o México.

    Em 2016, Bad Bunny era Benito Antonio Martínez Ocasio e trabalhava em um supermercado em Porto Rico.

    Chegamos em 2020, Trump, caído, ameaçou não deixar a Casa Branca por não aceitar a derrota para o democrata Joe Biden. Enquanto isso, Benito virou Bad Bunny, o artista mais ouvido no Spotify.

    Se você precisava de alguma esperança de que as coisas, eventualmente, podem melhorar, lembre-se dessa história.

    E se você só quiser conquistar o/a crush, lembre-se do "amor por telepatia" de Kali Uchis, e mantenha o distanciamento social.

    Curtinhas

    Jadsa, uau!

    A artista Jadsa Castro não é uma estreante, mas essa é uma questão problemática do vocabulário jornalístico musical antiquado para os tempos digitais: mesmo não sendo estreante, por já ter EP, singles, etc, a artista lançou o álbum de estreia, "Olho de Vidro" (por Balaclava Records), que é um estrondo. Guitarras derretidas, vozes delirantes, crueza e intensidade. Me percebi sem fôlego ao ouvir o álbum, o que é bem incomum, e estava somente na música "Sem Edição", que é a segunda do trabalho. Imagine como eu estava quando cheguei à última música, "Vidrada"? Tive dificuldade de escolher uma música só para colocar aqui, mas vamos nessa:

    Dica de podcast "quente"

    Ainda estou aprendendo a andar nesse universo dos podcasts (devo ter algum deficit de atenção porque sempre me perco quando só ouço as pessoas falando), mas há tempos curto o "Queijo Quente", projeto do sempre ótimo Guilherme Guedes e do Lohan Abdala, cuja dinâmica que era boa ficou melhor ainda com a entrada da promissora e espertíssima Dora Guerra. No episódio mais recente eles falaram do quê? Sim, do tal "pop latino". Está disponível nas plataformas de podcast.

    Juliana faz da realidade, uma ficção

    Ou será que será o contrário? Juliana Linhares fez um álbum (também de estreia) que é um espetáculo. Teatral, instigante, poético e erudito, sem nunca perder a força daquela labareda pop - como em "Meu Amor Afinal de Contas", com participação de Zeca Baleiro. O álbum foi produzido por Marcus Preto, o trabalho canta sobre o afeto com o Nordeste (Juliana é de Natal). Sob o efeito da frase "nordeste é uma ficção", cantada por Belchior em "Conheço Meu Lugar", ela cria suas próprias ficções que soam como memórias, delírios ou ambos.

    Tem um novo herói favorito

    "Invencível" é o nome do herói que também dá título à animação que estreou no Prime Video na sexta-feira (28), uma adaptação das HQs criadas por ninguém menos do que Robert Kirkman, o mesmo de The Walking Dead. Sangue, mistério, assassinato e hormônios se misturam nessa história que parece incrível e tem um visual bem mequetrefe. Planejava escrever um texto sobre a animação (o título já está pronto, inclusive: "Cinco minutos de Invencível vale mais do que quatro horas de Liga da Justiça"), mas vi que o Roberto Sadoviski, colunista aqui da casa, também escreveu sobre a animação e citou o Liga da Justiça! Rarará. Para não repetir o tema do colega, vou deixar para falar sobre a série mais tarde.

    Com um Longão tão longo, economizei na quantidade de "curtinhas". Semana que vem, voltarei com mais, ok?