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Pedro Antunes

Globo de Ouro 2021 já cometeu o maior erro: esnobar I May Destroy You

Michaela Coel em cena de "I May Destroy You", série da HBO - Divulgação
Michaela Coel em cena de "I May Destroy You", série da HBO Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

03/02/2021 22h50

Sem tempo?

  • Saíram os indicados ao Globo de Ouro 2021.
  • E a ausência de "I May Destroy You" é uma das maiores injustiças da história da premiação.
  • Até a roteirista da indicada Emily In Paris, da Netflix, disse que "I May Destroy You" merecia ter sido lembrada pela premiação.

Ninguém merecia mais uma indicação ao Globo de Ouro 2021, nas categorias de séries de TV, do que MIchaela Coel.

É, portanto, um absurdo correr os olhos pela lista de indicados à premiação dedicada ao cinema e televisão, dada pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood , e não encontrar Coel e a sua obra, a delirante, atual, impactante e necessária "I May Destroy You".


O Globo de Ouro é costumeiramente aquele primo maluquinho das premiações mais sérias. E que gosta de confete, por isso mesmo, divide os filmes e séries em duas categorias distintas, drama e comédia/musical, para fazer mais barulho, ter um maior número de indicados e gerar mais comentários.

Diante do histórico pouco coerente na categorização das produções na premiação (séries e filmes sérios e dramáticos já foram incluídos na categoria de comédia), "I May Destroy You" poderia ser indicada em qualquer uma das categorias das séries de TV do Globo de Ouro.

Veja os indicados de 2021:

Melhor série - Drama

  • "The Crown"
  • "Lovecraft Country"
  • "The Mandalorian"
  • "Ozark"
  • "Ratched"

Melhor série - Musical ou comédia

  • "Emily In Paris"
  • "The Flight Attendant"
  • "The Great"
  • "Schitts Creek "
  • "Ted Lasso"

Fica claro, principalmente quando olhamos para as escolhas, a força da Netflix no Globo de Ouro (premiação cujo poderio financeiro, dizem aqueles que convivem com os bastidores de Hollywood, faz toda a diferença).

"Emily In Paris" e "Ratched", embora valiosas, não têm um quinto do impacto de "I May Destroy You".

Não desconcertam, também, diferentemente da produção de Coel. São polidas, entregues sem lascas. Mais ainda, serão facilmente esquecidas no imenso catálogo da Netflix em um par de anos.

"I May Destroy You" não é uma série que faz lobby. Pelo contrário, é uma narrativa feita para criar desconforto e inquietação.

Michaela Coel é a faz-tudo aqui. Escreveu, co-dirigiu, protagonizou. Por isso, tudo tem um sabor tão autoral.

Na trama, somos jogados para a vida da protagonista Arabella e dois amigos. Os episódios, curtinhos e disponíveis no HBO Go, contam sobre os traumas de um estupro com linhas temporais distintas, uma trilha sonora f* e distintos formatos de narrativa.


"I May Destroy You" fora do Globo de Ouro 2021 é mais que um absurdo. É cegueira. É um apagamento de uma das produções que melhor soube contar uma história com a dinâmica dos anos 2020, com a intensidade e volatilidade da vida de um jovem que chega aos 30 e poucos anos.

Oras, se até a roteirista de "Emily In Paris", Deborah Copaken, publicou um artigo no The Guardian dizendo acreditar que "I May Destroy You" deveria ter recebido uma indicação ao Globo de Ouro 2021 (leia em inglês), o que mais posso dizer?

Assista. Dê uma chance e seja provocado por essa história.