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Pedro Antunes

8 bandas 'tipo Russomanno': começaram voando, mas derreteram

Celso Russomanno, durante agenda da campanha para a prefeitura de São Paulo, em outubro de 2020
Celso Russomanno, durante agenda da campanha para a prefeitura de São Paulo, em outubro de 2020
ALOISIO MAURICIO/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

17/11/2020 12h00

Mais uma vez, a candidatura de Celso Russomanno (Republicanos) à prefeitura de São Paulo subiu, cresceu, ganhou aliados, mas derreteu, pesquisa seguida de pesquisa, até o resultado da eleição, deste domingo (15). Foram 560.666 votos, 10,50% do total e uma 4ª posição na corrida eleitoral.

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Assim como em anos anteriores, a candidatura de Russomanno começou voando, com aqueles aterrorizantes números de intenção de voto, mas desandou. "Derreteu", como chamaram os analistas políticos - e eu adorei o termo.

Infelizmente, não são poucas a bandas que viveram essa "ascensão e queda" tipo Russomanno, com um primeiro disco que voou, mas que jamais conseguiram repetir o impacto em outros álbuns, acabaram ou coisa parecida.

Então essa lista tem um pouquinho de cada tipo de banda que viveu seus felizes e tristes dias de Russomanno no mercado a música. Que tiveram um disco de estreia que foi hit e depois nunca mais conseguiram o mesmo sucesso, por própria escolha ou não.

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Também tem bandas que só tiveram um disco e depois desandaram, desapareceram, mesmo.

Atenção:

Isso é importante: as bandas citadas aqui não estão dentro de qualquer espectro político do candidato do partido Republicanos, ok? É só uma comparação de trajetórias, do início fulminante ao fim derretido.

Vamos lá?

INTERPOL

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Essa vai machucar a geração indie triste que encontrou acalanto na solidão e desolação com "Turn On The Bright Lights", o disco de estreia do Interpol. Havia algo de Joy Division e, ao mesmo tempo, mostrava frescor. Ou seja, era lindo.

Claro, o grupo já lançou seis discos no total, alguns deles inclusive figuram no top 10 das paradas dos EUA, mas, sejamos sinceros aqui: qual desses foi realmente melhor do que o álbum de 2002?

THE KILLERS

Não me odeiem, ok?

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Mais uma da geração de bandas de rock que encontrarou popularidade no início dos anos 2000. E sei que serei xingado por incluir o The Killers nesta lista, mas vamos lá:

"Hot Fuss", o disco de estreia do grupo de Las Vegas de 2004 foi absurdamente fantástico. Era enigmático, robótico, tinha um clima de pista e tinha "Mr. Brightside", um dos maiores hits dos anos 2000.

E embora o álbum seguinte a ele, "Sam's Town" (2006), tenha boas músicas - como "When You Were Young" e "Read My Mind" - faltou gás para o The Killers. Eles soltaram outros quatro álbuns, inclusive "Imploding the Mirage", em agosto deste ano.

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Infelizmente, nenhum disco, do início ao fim, foi tão potente e recheado de hits quanto aquele de estreia. Eles amadureceram, procuraram novos caminhos estéticos e isso é lindo, mas se enquadram nessa lista. Derreteram, portanto, por mais que doa escrever isso.

MGMT

A última banda dessa safra de "os indies vão me odiar" da lista é mais uma que apresentou um potencial enorme no primeiro álbum e, a partir do segundo disco, decidiu seguir outros caminhos estéticos.

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O frescor de "Oracular Spectacular" (2007) mostrava que o pessoal que curtia indie também gostava de ouvir músicas com aspectos mais dançantes e good vibes. Não por acaso, "Kids" e "Time to Pretend" são sucesso até hoje em festinhas mais descoladas e meio retrô - sim, 13 anos já se passaram.

O MGMT passou pelo derretimento da popularidade do primeiro álbum propositalmente, diferentemente de Russomanno (imagino). Eles deliberadamente quiseram que discos como "Congratulations" (2010), "MGMT" (2013) e "Little Dark Age" (2018) rompessem com o hype criado em torno da estreia.

E é um movimento legítimo, sempre. Inclusive, tenho até amigos que curtem.

FOSTER THE PEOPLE

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Convenhamos, a existência do trio Foster The People já era bastante inexplicável. Com uma música batidíssima, a "Pumped Up Kicks", eles correram por um caminho já aberto por bandas meio indie, meio dançantes, e emplacaram um hit ultra pop, mas de curta validade.

O trio liderado por Mark Foster ainda lançou mais dois álbuns, "Supermodel" (2014) e "Sacred Hearts Club" - o primeiro teve um relativo sucesso, muito ancorado pela popularidade do disco anterior, mas o segundo passou despercebido por quem não era fã deles.

Ascensão de Foster The People e o derretimento do grupo foram vistos, por exemplo, quando eles passaram por São Paulo e abriram o show de Noel Gallagher. Debaixo de chuva, só agitaram mesmo com "Pumped up Kicks", e olhe lá.

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MUMFORD & SONS

Quem aí não ficou encantado com a vibe rock de banjo e acordeão do Mumford and Sons, quando eles surgiram, no final dos anos 2000 e o disco "Sigh No More" (2009)? Se você, particularmente, não ficou. Saiba que muita gente curtiu, tá?

E tudo cresceu para o Mumford & Sons com o segundo álbum, "Babel" (2012) - vou colocar "I Will Wait", o hit deste disco, abaixo -, mas eles decidiram vestir as jaquetas de couro e assumir um lado mais roqueirão da cidade, que anda de motocicletas e tudo mais, em "Wilder Mind" (2015).

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Confesso que, particularmente, não curtia muito o lance todo de "rock caipira" e achava mais interessante a vibe do Kings of Leon no início da carreira do que essa fase da banda e até curto a melancolia de "Winder Mind", mas você soube que eles lançaram um álbum chamado "Delta" em 2018? Pois é...

THE STONE ROSES

Vamos falar de derretimento de verdade? Você conheceu uma banda chamada Stone Roses? Pois antes do britpop ser transformado naquela dicotomia de Oasis versus Blur. Quem começou essa mania roqueira no Reino Unido foram eles.

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Acontece que o Stone Roses, infelizmente, desandou. Derreteu mais do que Russomanno, que saiu de 20% das intenções de voto em 30 de outubro, para 11% das intenções de voto, 14 dias depois.

No caso do Stone Roses, o grupo lançou um álbum chamado "The Stone Roses" em 1989, eleito pela revista especializada inglesa NME o maior disco britânico de todos os tempos (ouviram, fãs dos Beatles?), e eram realmente incríveis, psicodélicos e adoravelmente desleixados.

Mas um problema com a então gravadora deles levou-os para uma batalha judicial e, quando o segundo e último disco saiu, "Second Coming" (1994), o mundo já era outro, o Stone Roses também. Não funcionou mais do mesmo jeito.

BOX CAR RACER

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No início dos anos 2000, não era só o garage rock a chegar forte. O hardcore (e o emo, tratado aqui sem qualquer ideia pejorativa, já que eu, mesmo, teria usado franja também se meu cabelo permitisse na época) também bombava nas rádios, MTV e etc.

O Box Car Racer era uma superbanda, aquela formada por artistas de outras bandas grandes. Neste caso, eram Tom DeLonge e o baterista Travis Barker, ambos doBlink-182, e o guitarrista David Kennedy, do Hazen Street.

E era demais! Eles soltaram um álbum, que levava o nome da banda, em 2002, fizeram turnê, mas o grupo morreu em 2003. DeLonge, inclusive, criou outra banda, chamada Angels & Airwaves, que existe até hoje e é chamada de "continuação do Box Car Racer".

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SEX PISTOLS

Vamos encerrar a lista oficial com um clássico? O maior exemplo de derretimento da história do rock and roll é o Sex Pistols e o álbum "Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols", lançado em 1977.

Aquele fim dos anos 1970 foram uma doideira. Nova York era pura pólvora, Londres também. Surgia o movimento que hoje conhecemos como punk.

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Criada a partir do tino empresarial de Malcolm McLaren, que percebeu um movimento interessante de jovens nas duas cidades, o Sex Pistols era explosão, hormônios e rebeldia. Não por acaso o disco de estreia foi o mais vendido no Reino Unido quando lançado.

E assim como explodiu, o Sex Pistols também implodiu. Um disco, uma turnê pelos Estados Unidos e "the end". O baixista Sid Vicious morreu em 1979 e hoje o vocalista conhecido então como Johnny Rotten veste camisetas em apoio a Donald Trump.

EXTRA! EXTRA! EXTRA!

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GUNS N' ROSES?

Quem leu essa coluna desde o começo deve saber da história do primeiro texto publicado aqui, de título 'O mundo ainda precisa de Guns N' Roses?'. Provocativo, não é? É, não fiz muitos amigos por causa dele, devo dizer.

E por mais que tenha feito esses desafetos virtuais com o texto, achei que era justo trazer o Guns N' Roses para a lista, não como provocação, mas pelo fato de que a banda se encaixa no que tenho escrito aqui sobre o "derretimento tipo Russomanno".

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Vamos lá: até aqueles que mais me atacaram nas redes sociais devem concordar que nada que Axl Rose e companhia fizeram depois do álbum "Appetite For Destruction" (1987) chegou aos pés desse álbum de estreia, certo?

Claro, foi um disco histórico, disso ninguém duvida. Colocou o GNR no topo do mundo, numa época em que o mundo ainda era dominado pelo som das guitarras e solos intermináveis. O que veio depois disso?

Com a popularidade já conquistada, pouco foi criado pelo grupo que valesse a pena um lugar no Hall da Fama do Rock. Eles souberam usar a ascensão e lançaram cinco álbuns entre 1987 e 1993.

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Depois disso, a banda já depenada soltou "Chinese Democracy", em 2008, um disco em estrutura, texturas e harmonias, não convenceu quem esperava por um novo álbum do grupo desde 1993.

Tem mais?

Olha, até tem. E poderia falar aqui de outras dessas bandas, mas vou deixar para o outro dia, para evitar tanto hate de uma só vez. Prefiro tomar um café e comer um bolo e aproveitar o começo dessa semana pós-eleições.

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