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Pedro Antunes

Jojo Todynho é a essência do pop brasileiro: 5 músicas para ir além do meme

Jojo Todynho no genial clipe "Devo Tá Na Moda" - Divulgação
Jojo Todynho no genial clipe 'Devo Tá Na Moda' Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

26/10/2020 11h45

Sem tempo? Vamos lá!

  • Jojo Todynho é rainha da internet brasileira neste momento
  • A artista é uma das estrelas do reality show A Fazenda 2020
  • Mas a força de Jojo Maronttinni (sim, esse é o nome artístico dela) é muito mais do que os memes
  • Reuni aqui 5 músicas para entender como Jojo é a essência do pop brasileiro
  • Ela tem de tudo: linguagem direta, redes sociais, quebra de padrões e tendências do funk

Foi logo na primeira semana do reality show da Record e Jojo Todynho já era um hit. Participante de A Fazenda 2020, Jojo se tornou queridinha de quem assiste à disputa apresentada por Marcos Mion.

A começar por essa reação dela ao funkeiro Biel.

Só isso já teria valido a participação dela no reality, mas Jojo não parou de dar umas boas lições pra gente por lá.

Mas, afinal, quem é a Jojo Todynho além de A Fazenda e dos memes? Vem cá que eu conto.

Jojo Maronttinni?

Para começar, esse acima é o nome artístico verdadeiro de Jojo, nascida Jordana Gleise de Jesus Menezes. "De Bangu para o mundo", foi o título de uma reportagem sobre a artista em 2018 na TV Record para falar do fenômeno Jojo.

Nascida em Bangu, moradora da Lapa, Jojo era YouTuber antes mesmo de se tornar cantora. A jogava na plataforma de vídeos algumas reais sobre preconceito e sobre o corpo dela.

Nesse ano de 2018, Jojo já era um fenômeno graças ao hit "Que Tiro Foi Esse?" e os memes/flash mobs criados a partir do som dos disparos da música.

Era meio que assim, ó:

(Meme que é popular de verdade ganha vídeos de mais de 10 minutos de duração com compilações e tal.)

E nem todo mundo curtia a brincadeira, obviamente, afinal o Twitter é um lugar de amor e ódio

Claro, existiu toda uma problematização sobre a violência, tiroteios de verdade, etc, mas, como o dito já diz, a ideia é ir "além dos memes".

Antes do funk

Você encontra vídeos no YouTube da Jordana/Jojo dançando ainda adolescente. Ela cantou em coral de igreja e também foi vendedora de sorvete, faxineira, cuidou de idosos e muitos outros corres.

"Que Tiro Foi Esse" foi um estouro, claro - perdão pelo trocadilho. E a participação dela no clipe de "Vai Malandra" (Anitta, Mc Zaac, Maejor e feat deTropkillaz & DJ Yuri Martins) também foi definitivo para ampliar a popularidade de Jojo.

Lembra do clipe? Ela aparece a partir do segundo minuto de vídeo:

E o funk, Jojo?

O funk de Jojo Todynho tem força no discurso, nas frases de efeito mais instantâneo do que Miojo e refrões bons de cantarolar depois.

A artista canta como essa personagem segura e de autoestima invejavelmente bem cuidada e lustrosa. Amor-próprio é a chave nas letras cantadas pela artista.

Em 2017, ela estreou como Jojo Maronttinni com a música "Sentada Diferente" (com DJ Batata).

Era uma época em que o funk tinha descoberto as flautas (doce e transversal) e usava e abusava dessa linguagem para criar refrões chicletes e bons de assobiar. Lembra de "Bum Bum Tam Tam", do MC Fioti, que bombou no mundo todo? É por aí a história.

"Sentada Diferente"

"Venha logo que eu 'tô cheia de maldade /
Chega de ficar trocando nude no WhatsApp"

Você percebeu que era 2017 e Jojo já problematizava o lance de quem fica só no nude nas mensagens, mas não partia pra ação, né? Visionária demais.

'Que Tiro Foi Esse?'

"Quer causar a gente causa /
Quer sambar a gente pisa /
Quer causar a gente causa /
Quem olha o nosso bonde pira"

Aqui, o que Jojo fez é antropofagia musical moderna.

Ela assumiu no subtexto o lance da violência no Rio de Janeiro com o som dos disparos, adicionou a linguagem jovem e que era popular entre a comunidade LGBTQIA+ (o "que tiro foi esse" significa arrasar, acertar em cheio, lacrar, estar bonito, bem-arrumado e tal) e se coloca em uma posição reativa, de acordo com o que vai receber do outro lado: se quiser causar, "a gente causa", se quiser sambar, "a gente pisa" e por aí vai.

'Vou Com Tudo'

"E eu fui fiel, fui sua amiga /
Você me traiu com as inimigas /
E eu fui fiel, fechei contigo /
Você me traiu com teu cinismo"

Essa é a melhor das músicas da safra de 2017/2018 de Jojo. Tem uma percussão seca, tem um drop da música eletrônica e um ritmo mais lento. O refrão também apresenta uma escolha melódica interessante na subida para as notas mais agudas com alguns floreios.

'Acordei Gostosa'

"E aí /
Gostosa pra caralho /
Ai, que isso amor /
Quando eu olho no espelho /
Não existe corpo melhor do que o meu"

O funk já tinha se transformado em 2019. O 150 BPM (que são 150 "batidas por minuto"), tão popular em 2018, se abria para novas estéticas. Aqui, em "Acordei Gostosa", Jojo já se aproximava de uma linguagem do maravilhoso brega-funk que tomaria o País no ano seguinte vindo do Recife.

Aqui, Jojo também enfileira frases de efeito e de conscientização de machismo e de entendimento de feminismo. "Mulheres levantam mulheres / Somos dona da porra toda", canta Jojo. E encerra a música com: "E quando a mulher diz que não / É não".

A música também ganhou uma versão brega funk pisadinha em 2020, que vale a pena sacar também, Considere uma bonus track da lista:

'Devo Tá na Moda'

"Olha todo dia meu status /
Mas nunca comentou nada nada /
Comprou uma bolsa igual a minha /
Mas da coleção passada"

Jojo volta a acelerar os beats com "Devo Tá na Moda". O discurso é poderoso aqui. Ela volta a trazer as relações humanas dentro do ambiente web, o que segue nesse diálogo franco com a contemporaneidade.

O refrão com "se quer paz, amém / se quer guerra, então me fala", Jojo se mostra mais consciente da própria lírica explora uma sequência de notas em ascendente que leva a música para cima.

Isso sem falar desse clipe, que é genial, né?

A real é que a escalada de Jojo Maronttinni ou Jojo Todynho é símbolo de uma transformação do funk, da quebra de padrões e dos discursos da música.

Ela é pop de essência brasileira, do meme ao hit.