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Opinião

Poesia: um festival, um livro e uma autora que merecem a sua atenção

No próximo final de semana, entre os dias 16 e 18 de maio, rolará em São Paulo a primeira edição do Festival Poesia, no centro. O encontro é realizado pela Livraria Megafauna e acontecerá no teatro Cultura Artística.

No palco principal estarão poetas como Adelaide Ivánova, Francisco Alvim, Ana Martins Marques, Marília Garcia, Edimilson de Almeida Pereira e Prisca Agustoni. Dentre as atrações estrangeiras estão a argentina Roberta Iannamico, a alemã Uljana Wolf, o irlandês Stephen Sexton e Tracy K-Smith, dos Estados Unidos.

Tivesse que escolher apenas um papo para acompanhar, iria de "No Bojo de Três Poetas", na sexta, às 19h. A mesa reunirá Cuti, Miriam Alves e Oswaldo de Camargo e deve ter como um dos assuntos os 45 anos do Quilombhoje, referência na literatura afro-brasileira. A mediação será de Fernanda Silva e Sousa.

A programação completa do Festival Poesia no Centro está no site do evento. Os ingressos são gratuitos, mas limitados. É uma boa reservá-los com antecedência por aqui.

Megafone

Chamada de Megafone, uma programação paralela ocupará o bar do Cultura Artística. No intervalo entre as mesas do palco principal, dezenas de poetas mostrarão um pouco de suas criações em intervenções bem breves, de poucos minutos.

Quase 200 artistas se inscreveram em busca de um espaço quando a organização do festival abriu uma chamada pública para o Megafone. Quem fez a curadoria dos nomes foi a poeta e pesquisadora Bruna Beber, com quem conversei sobre poesia brasileira contemporânea na edição mais recente do podcast da Página Cinco.

Irão se apresentar no Megafone nomes como Caetano Romão, Luiza Mussnich, Amara Moira e Gregorio Duvivier. Eis toda a grade.

Um livro

Como o assunto é poesia, compartilho com vocês um livro do gênero que li recentemente e curti: "Retorno ao Ventre: Mỹnh fi nugror to vẽsikã kãtĩ", de Jr. Bellé (Elefante). A obra foi uma das vencedoras do Prêmio Cidade de Belo Horizonte em 2023.

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Acometida pelo Alzheimer, num momento de lucidez, uma tia começa a fazer revelações a seu sobrinho. Entre poemas independentes que também compõem uma jornada, reprodução de documentos e resgates históricos, Bellé coloca em versos a brutalidade da marcha colonizatória no Sul do Brasil, especialmente no Paraná.

É um ciclo de violência que se perpetua e se torna mais complexo entre discursos que cansamos de ouvir ao longo da história, linhagens de ascendência e práticas estatais. O principal alvo dessa jornada é parte da terra Kaingang, um dos maiores povos indígenas do território hoje chamado de Brasil.

O leitor não deve se assustar com o subtítulo da obra, "M?nh fi nugror to v?sikã kãt?", pelo contrário. "Retorno ao Ventre" é um livro bilíngue. O texto de Bellé foi vertido para o idioma kaingang por André Luís Caetano. Boa oportunidade para ter contato com outra língua presente em nosso país.

Uma poeta

E ainda aproveitando que a pauta é poesia, reforço a recomendação para que leiam a poeta brasileira que mais indico por aí. E seguirei recomendando sempre que puder. Adoro o trabalho de Cida Pedrosa, que em 2020 venceu o Jabuti de livro do ano com o primoroso "Solo Para Vialejo" (CEPE).

Tanto nesse título premiado quanto em "Araras Vermelhas" (Companhia das Letras), seu livro mais recente, Cida faz uma boa mistura de reminiscências de sua vida, elementos da cultura tradicional, traços da cultura pop e muito da história do Brasil. Assim, constrói em versos longas jornadas marcadas pela luta por direitos e dignidade, além de doses de festejos e alegrias.

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Há algo de épico nessa fase mais recente da poesia de Cida. E há muito de sacana em seus trabalhos mais antigos, como "Claranã" (CEPE). Vale conhecer todas as facetas dessa grande poeta.

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Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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