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Opinião

'Trabalhar como forma de protesto': Autores explicam por que escrevem

Quando publicou "Por que Escrevo?", em 2006, pela Novera, José Domingos de Brito já coletava entrevistas de escritores há 25 anos. Com o avançar da coleção, o bibliotecário criou uma divisão dentro do acervo para reunir respostas a uma pergunta bastante frequente: por que ou para que escrever?

William Faulkner foi bastante direto: escrevia "para ganhar a vida", disse ao jornal francês Libération. Aparecem nessa coletânea feita por José respostas de escritores de diferentes cantos do mundo. De Clarice Lispector ("uma das vocações era escrever") a Paulo Coelho ("meu sonho desde criança"), de Juan Rulfo ("para combater a solidão") a Joyce Carol Oates ("não é uma questão que se coloca ao artista").

São revelações pescadas de entrevistas que concederam principalmente a grandes veículos de imprensa. "Por que escrevo?" ou a sua variação mais aberta, "por que escrever?", permanecem como perguntas recorrentes em entrevistas a escritores. E as respostas continuam sendo bastante diversas.

É uma questão que busca ir no coração do trabalho com a escrita —o que, com um outro enfoque, também foi assunto da última edição da newsletter da Página Cinco. Nessa véspera de Dia do Trabalhador, selecionei cinco respostas pescadas da reunião feita por José:

Francamente, por que você pensa que eu escrevo? Para desconcertar o maior número possível de pessoas com o máximo de inteligência. Por narcisismo, que é um fogo civilizador. Para ganhar minha vida e figurar no 'Larousse' [...]. Eu escrevo para tirar as ilusões com mérito, o que é uma forma de chamar a atenção dos outros com virtude. Depois, eu vou explicar por que os portugueses têm uma certa resistência em responder questões como esta. Nós somos um povo muito velho e que não considera dinamismo profissional como parte da cultura. A pobreza não nos obriga a ser obtusos, nem obedecer modelos de sensibilidade pueril.
Augustina Bessa-Luis.

Porque o mundo da ficção me intriga: a circulação das histórias, os disfarces da língua e o poder da crença. A literatura é o laboratório do possível: um lugar onde pode se experimentar, fazer a mistura do velho com o novo. Escrevo porque a literatura é uma forma provada de utopia.
Ricardo Piglia.

Eu escrevo porque sou um animal escritor.
Doris Lessing.

Escrevo por razões as mais variadas. Posso te dar uma razão totalmente metafísica, que é essa da perplexidade diante do mistério: quando você se defronta com certas cenas, certas emoções inexplicáveis, a escrita surge como uma resposta possível. Posso responder dizendo que a escrita é o fluxo de uma pulsão, do ponto de vista psicanalítico, e posso também responder que a escrita é o resultado de um trabalho profissional: na medida em que você, como jornalista ou como escritor, recebe encomendas, você disciplina a sua produção assim como um pintor renascentista disciplinava a produção de suas telas.
Affonso Romano de Sant'Anna.

Às vezes, quando vejo o que se passa no mundo, pergunto-me para que escrever? Mas, há que trabalhar, trabalhar. E ajudar o que mereça. Trabalhar como forma de protesto. Porque o impulso de uma pessoa seria gritar todos os dias ao despertar num mundo cheio de injustiças e misérias de toda ordem: protesto! protesto! Protesto.
Federico García Lorca.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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