25 anos de Harry Potter no Brasil: minha história com a saga de JK Rowling

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Não foi uma daquelas histórias que arrebatam logo nas primeiras páginas. Não fui muito com a cara daquele moleque magricelo de óculos e cicatriz na testa que, coisa estranha, vivia dentro de um armário. O começo foi um tanto empacado. Talvez tenha até desistido em algum momento. Mas, por algum motivo, nunca abandonei completamente o livro.
Ao persistir na leitura, aos poucos mergulhei num dos universos mais marcantes não só da infância ou começo da adolescência, mas da minha trajetória como leitor. Convenhamos, uma pedra filosofal não é o artefato mais atraente para alguém de 10, 11 anos. O que havia além de uma plataforma de trem, no entanto, atraía demais.
Virei amigo de Rony e Hermione. Virei mais amigo ainda de Hagrid, o destrambelhado com quem me identificava, e de Dumbledore — sempre tive um fascínio por essa figura do sábio cheio de poder. Depois, o misterioso e leal Sirius Black surgiu para fechar a minha trinca de personagens favoritos. O protagonista, chatinho, às vezes insuportável, nunca me conquistou. Por outro lado, sonhava viver naquele mundo mágico de Hogwarts.
A chegada da saga ao Brasil completa agora 25 anos. Com tradução de Lia Wyler, "Harry Potter e a Pedra Filosofal" aportou por aqui pela Rocco três anos depois de seu lançamento original. Conforme o sucesso da obra de J. K. Rowling crescia em todo o mundo, os outros títulos da saga eram lançados.
"Harry Potter e a Câmara Secreta" foi uma continuação meio decepcionante. Mais soturno e dramático, "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban", por outro lado, se firmou como o meu livro favorito da série logo na primeira leitura. E digo primeira porque era comum reler diversas vezes os títulos já publicados enquanto aguardava pelos novos.
Ainda li "Harry Potter e o Cálice de Fogo" com empolgação, mas não estava tão ávido assim quando coloquei as mãos na tradução de "Harry Potter e a Ordem da Fênix". Com o passar dos anos, o avançar da idade e a mudança nos interesses, fui me afastando daquele universo fantástico. Jamais li os dois volumes derradeiros escritos por Rowling.
Enquanto isso, Harry Potter deixou de ser um livro que arrebatava multidões de leitores (está em mais 85 idiomas, saiu em mais de 200 países e já vendeu mais de 600 milhões de exemplares pelo mundo) para virar um monstrengo de fazer dinheiro. Franquia de filmes, parque de diversões, bonecos cabeçudos, roupas.
Logo chegará às lojas uma edição comemorativa de "Harry Potter e a Pedra Filosofal" que terá desenhos do arquivo da autora e outros conteúdos extras. E livros que pouco têm a ver com a saga principal continuam saindo. "Livro de colorir oficial Funko Pop! dos filmes Harry Potter", uma das novidades, indica como sempre há como espremer ainda mais a criação de Rowling para faturar bastante grana.
Só no ano passado, segundo a Rocco, brasileiros compraram cerca de 30 livros de Harry Potter por hora, o que dá mais de 260 mil exemplares vendidos no ano. Para comemorar os 25 anos da saga por aqui, a editora fará eventos nos dias 26 e 27 de abril em diversas cidades, em lugares como a Livraria da Vila da Fradique Coutinho, em São Paulo, e a Leitura do BH Shopping, em Belo Horizonte.
Ao mesmo tempo em que sua criação tomou um tamanho inimaginável e a grana se avolumou, J. K. Rowling começou a acumular presepadas e ações deploráveis. Tentou impor informações à trama original que não estão presentes nos livros, o que é uma forma de chamar leitores de idiotas.
Pior, passou a usar redes sociais para vomitar toda a sua transfobia e a investir em campanhas de retrocesso social. São muitos os fãs da saga que buscam por maneiras de manter o carinho pelas histórias ao mesmo tempo que repudiam a autora. A vida é cheia de contradições, lidemos com isso.
Por aqui, Harry Potter segue como uma das leituras mais importantes da juventude. Foi legal, tem seu lugar na minha história, mas nada me motiva a buscar pelos dois últimos livros para completar a leitura da série.
E Rowling? Bem, ela que se vire para responder por sua frequente estupidez.
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