Sim, eles estão de volta: uma nova onda de livros para colorir

Ler resumo da notícia
"Cozy Time", "Comfy Days" e "Fuzzy Friends" (os três da Ciranda Cultural). "Cute & Comfy - Coloring Book for Adults" e "Cute & Cute" (ambos da Camelot). Sim, os livros para colorir estão de volta.
Febre cerca de uma década atrás, quando havia até quem apostasse que uma leva de novos leitores poderia surgir do hábito de pintar mandalas e jardins secretos, as brochuras encadernadas com desenhos em branco voltam a ser procuradas em livrarias.
São obras com bichinhos fofinhos na capa. Versões infantilizadas de ursinhos, gatinhos, leãozinhos, sapinhos, capivarinhas que se acomodam em suas casinhas ou descansam em suas prainhas. Ainda assim, alguns desses volumes deixam claro logo na capa: tratam-se de livros de colorir para adultos. Que ninguém pense estar diante de algo para crianças, nada disso.
Em recentes listas dos mais vendidos do portal Publishnews, os livros para colorir ocupam metade das dez primeiras posições na categoria não-ficção. Concorrem com variações de um mesmo tema: Deus e Jesus. Pelo visto, quando o sujeito não está pintando ursinhos e leãozinhos, tenta tomar café com o filho ou conversar com o pai.
A volta dos livros para colorir parece consequência de outra onda do mercado editorial: a dos livros "cozy" e "comfy". São obras, sobretudo romances, que buscam provocar no leitor a sensação de quentinho, de aconchego, de conforto. Flertam com a chamada healing fiction, a "ficção de cura", com sua pegada de autoajuda encapsulada como histórias acolhedoras, muitas delas ambientadas em livrarias.
São fenômenos editoriais que indicam a quantidade de leitores (ou pintores) cada vez mais em busca de livros que não apresentem grandes desafios. Fazem da literatura ou do livro ilustrado e ainda sem cores uma espécie de bichinho de pelúcia ao qual se abraçar num momento difícil. E momentos difíceis não faltam numa vida, sabemos.
Olho para a nova leva de livros para colorir e lembro o conceito de brain rot —o cérebro virando paçoca graças às besteiras consumidas na internet. De tanto rolar o dedo na tela do celular, passamos a repudiar atividades complexas, algo que demande atenção.
"Livros? Adoro! Passei o final de semana pintando, inclusive. Leitura? Ah não, não consigo me concentrar. E também não queria ficar pensando na hora de descansar, né?", imagino alguém dizendo.
Lembro também de Beatriz Sarlo, crítica literária e grande intelectual argentina que morreu no final do ano passado. Lendo sobre sua vida, me deparei com uma frase que segue comigo: "Para que vou ler um livro se não é para me fazer pensar?".
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.