Topo

Página Cinco

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

FliPF: Caetano, festas literárias e as cabeças despertadas pela leitura

Raphael Montes, Aldri Anunciação e Rodrigo Casarin na Festa Literária Internacional de Praia do Forte - Waldyr Lantyer
Raphael Montes, Aldri Anunciação e Rodrigo Casarin na Festa Literária Internacional de Praia do Forte Imagem: Waldyr Lantyer

Rodrigo Casarin

Colunista do UOL

08/08/2022 16h03

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Teve quem chorasse. E foi mesmo bonito quando o antropólogo Marlon Marcos homenageou os 80 anos de Catano Veloso e recitou os versos de "Um Índio". "Virá/ Impávido que nem Muhammad Ali/ Virá que eu vi/ Apaixonadamente como Peri/ Virá que eu vi/ Tranquilo e infalível como Bruce Lee/ Virá que eu vi/ O axé do afoxé Filhos de Gandhi// E aquilo que nesse momento se revelará aos povos/ Surpreenderá a todos não por ser exótico/ Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto/ Quando terá sido o óbvio". O mediador da mesa com o psicanalista Christian Dunker emocionou a plateia que lotou o auditório.

No sábado, aliás, o público foi um dos destaques da 3ª edição da FliPF, a Festa Literária Internacional de Praia do Forte. Tanto o papo entre Raphael Montes e Aldri Anunciação, mediado por mim, sobre formas de se levar o mundo para roteiros e obras literárias quanto a sensível conversa entre Alex Simões, Ondjaki e Maria Dolores Rodriguez, mediada por Schneider Carpegiani, encheram o espaço dedicado às conversas literárias. No final, foi bom o público total do evento. Mais de 5700 pessoas - sendo cerca de 2.000 estudantes de escolas públicas e particulares - prestigiaram 126 atrações.

A FliPF se dividiu entre duas áreas. Enquanto a programação principal rolou no simpático Espaço Baleia Jubarte, colado à vila de Praia do Forte, os outros artistas se apresentaram nos arredores das ruínas do histórico Castelo Garcia D'Ávila. Apesar de ônibus gratuitos realizarem o trajeto de tempos em tempos, a distância de quase 4 quilômetros entre os lugares provocou certa sensação de distanciamento. A partilha aconteceu de última hora, o que levou diversas editoras a desistirem da festa. Junto com atrasos no início de mesas e alguns problemas com microfones, são pontos a se ponderar.

No domingo, Naine Terena e Danizia Kawany Fulxaxó mostraram firmeza ao falar de arte de povos indígenas ao lado de Ró de Nunca - Edma Gois fez o meio de campo da conversa. E numa festa com o tema "Bahia Moderna Bahia", o papo "Bahia Pós-tudo", com Ayrson Heraclito, Capinan e Everlane Moraes, mediado por Josélia Aguiar, encaminhou para o final a programação que terminou com convidados incentivando a leitura de seus livros memoráveis.

A FliPF nasceu em 2019 e logo na sequência teve que lidar com o baque da pandemia. Uma segunda edição virtual garantiu que o encontro organizado pela Trevo Produções e pela Gabiroba Cultural pudesse chegar à terceira edição, tocado em parte graças a diversos pequenos apoios de negócios na região. A Bahia conta, hoje, com quase 40 eventos do tipo espalhados por todo o Estado e notícias de novas iniciativas pipocam aqui e ali. É necessário que essas festas encontrem os melhores caminhos para se manter ao longo dos anos, um desafio em tempos de pouco dinheiro e muitas ideias (ou contra-ideias) obscuras.

No papo com Itamar Vieira Junior, Antônio Torres mencionou a jornada até o entendimento. Pouco antes, na abertura da FliPF, Joselia, curadora desta edição, salientou como esses momentos têm a capacidade de instigar o público e de semear palavras que poderão ajudar na formação de cada vez mais leitores.

A fala de Joselia se conecta, de alguma forma, com uma história contada por Socorro Acioli na mesa em que participou. Autora de "A Cabeça do Santo" (Companhia das Letras), livro que faz muito sucesso por clubes de leitura de todo o país, Socorro lembrou a visita a um presídio onde detentos liam o seu trabalho. Um deles, até então avesso aos livros, comentou: tinha sentido a própria a cabeça acordar quando começou a ler.

É uma imagem bonita. Que festas literárias ajudem a fazer com que cabeças sejam despertadas cada vez mais cedo graças à leitura.

Viajei para Praia do Forte a convite da FliPF.

Você pode me acompanhar também pelas redes sociais: Twitter, Facebook, Instagram, YouTube e Spotify.