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OPINIÃO

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Soturna, lisérgica e com Leminski: a exposição As Aventuras de Alice

Arte de Adriana Peliano na exposição "As Aventuras de Alice" - Rodrigo Casarin
Arte de Adriana Peliano na exposição "As Aventuras de Alice" Imagem: Rodrigo Casarin

Rodrigo Casarin

Colunista do UOL

25/06/2022 04h00

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Boa opção para as férias de julho, para quem vem a São Paulo por conta da Bienal do Livro ou para quem só procura por um bom rolê mesmo. Estreou na última sexta, no Farol Santander, no centro de São Paulo, a exposição "As Aventuras de Alice", inspirada em "As Aventuras de Alice no País das Maravilhas", clássico do escritor britânico Lewis Carroll publicado em 1865.

Depois de passar por uma breve biblioteca formada por diversas versões literárias da obra, no Gabinete de Curiosidades que o visitante tem a primeira boa surpresa da mostra. Estão ali representações e elucubrações do ambiente criativo de Carroll elaboradas pela artista plástica Adriana Peliano. São montagens com miniaturas e miudezas, colagens sobre ilustrações do britânico John Tenniel e misturas de antigas bonecas com outros objetos, estas inspiradas na versão surrealista de "Alice" que chegou aos cinemas em 1988 pelas mãos do diretor tcheco Jan Svankmajer. Perturbadoras, essas bonecas sinistras nos lembram do lado mais soturno de "Alice", algo que parece se perder em leituras meio bonitinhas meio abobalhadinhas.

Na sequência, um caminho por momentos importantes da história do cinema por meio dos personagens de Carroll, tantas vezes levados para a telona. Instalações como o folioscópio (sequência de imagens num pequeno livro que, quando folheado rapidamente, cria a impressão de movimento) e o zootrópio (uma roda cilíndrica com frestas nas laterais e desenhos sequenciados que gera a sensação de movimento das figuras ao ser girada) mostram técnicas antigas de se animar imagens.

Quadro de Antonio Peticov na exposição As Aventuras de Alice - Rodrigo Casarin - Rodrigo Casarin
Imagem: Rodrigo Casarin

Faz sentido que na antessala do segundo piso o espectador seja convidado a mergulhar na mítica toca do coelho assistindo 21 versões cinematográficas diferentes de Alice caindo em tal buraco. Passados o vídeo e a cortina, um tanto do mundo fantástico criado por Carroll. Um espaço com instalações chamativas inspiradas no famoso chá de Alice com o Chapeleiro Maluco e nas cartas de copas do baralho, alusão à Rainha enfezada que vive de pedir cabeças alheias.

As marcas nonsense e surrealistas de um artista que influenciou gente como o espanhol Salvador Dalí e a japonesa Yayoi Kusama estão presentes na exposição. Caminhando para o final, vale prestar atenção nas pinturas algo lisérgicas de Antonio Peticov, que dedica o seu olhar ao sempre atrasado e encanado Coelho Branco, outra grande figura da história de Carroll.

Para fechar, uma sala de espelhos, referência a "Alice Através do Espelho", continuação do clássico do britânico. É oportuna a escolha de um poema de Paulo Leminski para encerrar a mostra. São versos que podem ter sido pensados para Alice Ruiz, antiga companheira do poeta, mas se encaixam muito bem no contexto. Mais do que isso, também lembram que a interpretação e as possibilidades de uma obra de arte vão muito além das intenções de seu autor.

"As Aventuras de Alice" tem curadoria de Rodrigo Gontijo, cenografia de Lee Dawkins e direção de arte de Tissa Kimoto. A exposição fica em cartaz até o dia 25 de setembro deste ano. A entrada custa R$30,00.

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