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OPINIÃO

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Por que ex-BBBs insistem em lançar livros (quase sempre ruins)?

Gil do Vigor e Viih Tube lançaram livros após a participação no BBB de 2021 - Reprodução
Gil do Vigor e Viih Tube lançaram livros após a participação no BBB de 2021 Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

12/01/2022 04h00

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Em 2021, dois livros de ex-participantes do Big Brother Brasil estiveram entre as piores leituras feitas no ano: "Tem que Vigorar!", de Gil do Vigor (Globo Livros), e "Cancelada", de Viih Tube (Agir). A edição de 2022 do programa começará em breve. Já prevejo que no segundo semestre terei que me embrenhar de novo por páginas escritas ou assinadas por pessoas que fizeram sucesso no reality show. Faz parte do trabalho, paciência.

Leio na coluna da colega Aline Ramos uma relação com 11 livros lançados por ex-BBBs. Pelas sinopses, um traço em comum encontrado também nos trabalhos de Tube e do Vigor: a mistura de relatos vividos dentro da casa com fragmentos da vida pregressa. Nos livros do nicho lidos em 2021, há também certa vontade de estabelecer uma narrativa específica para si, o que, acredito, se repete em outras obras do universo bigbrotheriano. Quem sai de uma casa dessas quer mostrar como se enxerga ou como prefere ser enxergado.

Aparentemente, não é das piores apostas investir em produtos de gente em evidência, com uma imensidão de fãs e certa onipresença na mídia e nas redes sociais. Mas se a ideia é aproveitar a onda provocada pelo BBB, as editoras precisam ser rápidas. Daí que nascem livros com jeitão de fast-food, como o do Vigor, ou obras conduzidas por um fiapo de narrativa e sustentadas por uma quantidade descomunal de fotos, como a de Tube.

Um fã não costuma ser a pessoa mais exigente e sensata do mundo quando algo relacionado à figura que admira tapadamente está em jogo. Enquanto esses fãs são atendidos com obras capengas, os ex-participantes do programa aproveitam para estabelecer a imagem que desejam vender de si e as editoras tentam atrair bons números para suas planilhas. Nem sempre dá certo. Ter um autor de grande projeção, com milhões de seguidores nas redes sociais, não significa necessariamente vendas retumbantes, como algumas casas têm aprendido da pior forma possível - vide o tombo da estadunidense Grand Central Publishing com o livro de Billie Eilish.

Ainda existe um outro tipo de livro de ex-BBB: o do participante que aproveita a memória deixada pelo programa para reaquecer seu nome e se consolidar na carreira pré alguma fama ou se projetar para outras áreas. Quem está no meio desse processo é João Luiz, professor, mais um participante da edição de 2021. Agora João prepara um livro sobre geografia que sairá pela HarperCollins.

No sentido contrário, ainda houve um participante que chegou no programa com pompa de escritor, de poeta, e depois virou até amigo pessoal do antigo apresentador. Hoje, esse ex-BBB das letras vive de puxar o saco de figuras toscas, defender pautas obtusas e preparar terreno para a extrema direita pastar o país.

Há quem fique incomodado com a tendência de ex-BBBs darem uma de escritores. Besteira. Lançar um livro (quase sempre ruim, desconheço exemplo no sentido contrário para servir de contraponto) com alguns relatos pessoais é algo bem diferente de desejar ser mesmo escritor, de querer estabelecer uma carreira literária. E, se quiserem, sem problemas também. Que venham novas pedradas para os livros ruins e eventuais aplausos para bons momentos, caso existam.

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