Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Autoajuda contra os idiotas da internet: o livro-balada de Viih Tube
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Por conta da mistura de preto com um rosa bastante chamativo que domina o livro e ainda com a tal Farofa da Gkay na memória, a imagem de uma festa se formou em minha cabeça quando comecei a ler "Cancelada - O que a Internet Não Mostra", de Viih Tube (Agir). A gigantesca e inexplicável quantidade de fotos da influenciadora distribuídas em muitas das 128 páginas do volume contribuíram para a sensação de estar diante de um livro-balada. Indo além da impressão inicial, logo percebemos se tratar de uma festa um tanto melancólica.
O leitor encontra apenas um traço ou outro um pouco mais aprofundado da trajetória da "autobiografada" de pouco mais de 20 anos. Portanto, esqueça o papo de autobiografia. Seria melhor classificar como "memórias" o texto centrado no contraste entre a vida pública de Viih Tube, as bordoadas que toma especialmente na internet (mas não só) e em como isso reflete em seu íntimo.
"Aqui quem fala é uma cancelada. Uma garota de 21 anos que, em pelo menos quatro momentos da vida, experimentou a dor de ver seus erros apontados em público, de ser alvo de ofensas, ameaças e todo tipo de humilhação. Apesar de muito jovem, há dez anos trabalho e vivo intensamente no universo da internet, que já me levou à glória, mas também já me arrastou para o fundo do poço", anuncia a autora nas páginas iniciais.
Viih Tube criou um canal no Youtube em 2013, aos 12 anos. Dois anos depois, o primeiro episódio no qual foi cancelada. Ao comprar um caderno com desenho de Romero Britto na capa, fez confusão e contou para os seguidores se tratar de uma arte do espanhol Pablo Picasso. Bastou para que a horda de idiotas dispostos a agredir qualquer um no espaço virtual passasse a atacá-la. Os episódios do cuspe na boca de um gato e da rejeição retumbante em sua saída da última edição do Big Brother também são momentos repassados pela influenciadora.
Agregaria ao livro se a autora procurasse entender de onde vem esse ódio digital e de que forma essa prática pode ser uma faceta de algo mais amplo, de uma cultura que transforma em grandes celebridades gente que passa boa parte dos dias alimentando fofocas e criando factoides, pequenas polêmicas sobre o nada ou o quase nada. As ofensas bestiais não seriam irmãs tristes das exaltações e paixonites descompensadas?
Viih Tube olha para si e entrega um livro de tom juvenil, com testes, atividades lúdicas e propostas para que os leitores usem as páginas para compartilhar seus dilemas. A autora se apoia na própria intimidade para oferecer reflexões típicas da literatura de autoajuda. Se o desejo principal manifestado na obra (a partir do livro, contribuir para que a cultura do cancelamento seja cancelada) parece um tanto distante de ser realizado, ao menos há aspectos que podem ser úteis para os prováveis leitores - os fãs da moça, basicamente, presumo. Me parece ter a sua relevância o modo como a autora trata de abusos sofridos e escreve a respeito da saúde mental. Já é alguma coisa.
Você pode me acompanhar também pelas redes sociais: Twitter, Facebook, Instagram, YouTube e Spotify.
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