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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Você é um 'leitor ideal'? Essas 12 notas te ajudam a descobrir

Reprodução da biblioteca antiga de Alberto Manguel - Divulgação
Reprodução da biblioteca antiga de Alberto Manguel Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

13/09/2021 10h28

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Ensaísta, antigo diretor da Biblioteca Nacional da Argentina, seu país natal, e um dos maiores bibliófilos do mundo, Alberto Manguel está em alta. Acolhido em Lisboa, trabalha para transformar a sua coleção de aproximadamente 35 mil livros no Centro de Estudos da História da Leitura. Enquanto isso, no Brasil, pipocam novidades sobre Manguel.

Entre 2018 e 2020, circulou por unidades do Sesc a ótima exposição "A Biblioteca à Noite", concebida a partir de um livro homônimo do intelectual publicado por aqui pela Companhia das Letras, em 2006. Também é da Companhia um dos lançamentos de Manguel em nossas livrarias: "Encaixotando Minha Biblioteca", no qual se debruça sobre a própria história com os livros.

Outra novidade saiu pela Edições Sesc. Falo de "Notas Para Uma Definição do Leitor Ideal", compilação de reflexões proferidas em conferências e ensaios publicados originalmente entre 1999 e 2017. Traduzido por Rubia Goldoni e Sérgio Molina, é uma coletânea com bons momentos, ainda que um tanto oscilante. Mas deixarei para escrever mais a respeito da obra em outro momento (prometo, ela já está toda riscada e dobrada aqui na minha mão).

Por enquanto, miro na saborosa e potencialmente controversa lista que dá nome ao livro: "Notas Para Uma Definição do Leitor Ideal". O texto foi escrito para uma edição de 2013 da revista da "Maison des Écrivains Étrangers et Traducteurs de Saint-Nazaire", da França. Nele, Manguel reúne mais de 60 notas que ajudam a definir o que seria um leitor ideal. Eis 12 delas:

Notas Para uma Definição do Leitor Ideal - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

- O leitor ideal não acompanha uma história: participa dela.

- O leitor ideal é cumulativo: cada vez que lê um livro, acrescenta uma nova camada de lembranças à narrativa.

- O leitor ideal lê toda literatura como se fosse anônima.

- O leitor ideal é politeísta.

- Robinson Crusoé não é um leitor ideal. Ele lê a Bíblia em busca de respostas. Um leitor ideal lê para encontrar perguntas.

- Os leitores ideais mudam com os anos. Quem aos 14 anos foi o leitor ideal de "Vinte Poemas de Amor", de Neruda, não o será aos 30. A experiência embaça o brilho de certas coisas.

- Pinochet, que proibiu "Dom Quixote" por pensar que incitava a desobediência civil, foi o leitor ideal desse livro.

- O leitor ideal observa rigorosamente as regras e normas que cada livro cria para si.

- O leitor ideal quer chegar ao final do livro e ao mesmo tempo saber que o livro nunca acabará.

- O leitor ideal não dá importância aos gêneros.

- As boas intenções não bastam para produzir um leitor ideal.

E aí, arrisca alguma outra indicação de um leitor ideal? Se reconheceu nessa lista resumida?

Difícil alguém que se encontre plenamente nos pressupostos esboçados pelo bibliófilo. Levando em conta as mais de seis dezenas de notas que integram o texto, é provável que nem o próprio escritor se enxergue em todas. O que não é um problema; ideais também servem como pontos para almejarmos. E Manguel sabe bem disso. Eis a definição que encerra o seu artigo: "A literatura não depende de leitores ideais, mas apenas de leitores suficientemente bons".

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