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REPORTAGEM

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Otávio Júnior: A literatura me mostrou que o céu não é o limite

Colunista do UOL

10/09/2021 09h53

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Na 94ª edição do podcast da Página Cinco:

- Papo com Otávio Júnior, vencedor do Prêmio Jabuti com o livro infantil "Da Minha Janela" (Companhia das Letrinhas).

- "Tudo Coisa da Nossa Cabeça", de Luiza Mussnich (7Letras), "Histórias do Meio do Mundo", de Julianne Veiga (Patuá), e "Antes que Eu Me Esqueça", org. Gabriela Soutello e Carol Magalhães (Quinta Edições).

Alguns destaques do papo com Otávio:

Encontro com o livro

Os livros entraram na minha vida de uma maneira bem inusitada. Continuo vivendo numa favela da zona norte do Rio de Janeiro. Em 1992, os campos de futebol nessas comunidades eram de terrão e as pessoas jogavam seus lixos em volta desses campinhos. Eu, todos os dias, mudava minha rota e passava perto do campinho para estar próximo do futebol. Certo dia, meu caminho foi interrompido por uma caixa com brinquedos seminovos. No meio dessa caixa tinha um livro. Esse livro acabou transformando o rumo da minha vida.

Diversão na infância

A minha diversão era percorrer a cidade do Rio de Janeiro em busca de bibliotecas e ficar em companhia dos livros.

Refúgio na biblioteca

Um episódio marcante: eu sentado na biblioteca do meu bairro, que fechava às 17h. Saía da escola por volta do meio-dia e passava esse período inteiro na biblioteca. Nessa época, estava vivendo um grande drama familiar, pessoal. Meu pai era alcoólatra, bebia todos os dias da semana, às vezes às 15h ele estava sob efeito da bebida alcoólica. E eu ficava esse tempo todo tendo a biblioteca como refúgio, como espaço onde, em algumas horas, eu esquecia desses episódios familiares.

Lembro de um dia em que foi se aproximando das 17h... Eu olhava para o relógio e me dava uma angústia. Dali fui para uma outra biblioteca que fica no centro do Rio. Ela fechava às 20h. Tinha essas horas para ter contato com os livros, com histórias. O percurso até chegar em casa era mais ou menos uma hora, então, quando chegava em casa, meu pai já estava dormindo.

Favela plural

Eu sou muito sonhador. E a literatura me proporciona potencializar esses sonhos. Atualmente me realizo contando as minhas histórias, as histórias desses universos periféricos - a favela é totalmente plural -, e fico muito feliz de poder levar para um grande público essa favela plural. Grande parte das notícias que são repassadas pro grande público sobre a favela é sobre pobreza, violência, criminalidade, marginalidade. Fico muito feliz de poder levar na literatura, no objeto livro, as múltiplas histórias da favela.

Espelho

Meu desejo é que essas pessoas tenham um espelho. Fico muito feliz que seja um espelho literário. Que olhem para os livros e se reconheçam, reconheçam o seu lugar, as suas histórias.

Emoções literárias

O livro traz essa premissa do trabalho emocional que transforma totalmente vidas. Os livros infantis são muito potentes para trabalhar esses conceitos com as crianças. Ao mesmo tempo, fico triste porque meu desejo era poder ampliar essas ações, levar esses livros potentes para outros lugares. Espalhar essas emoções literárias pelos quatro cantos do Brasil.

As faltas

Não entendo o não investimento na educação, o não investimento na cultura. Não consigo raciocinar sobre os cortes na educação, os cortes na cultura, as questões ligadas a taxar livros, não ter incentivos para livreiros, editores, bibliotecas públicas e comunitárias... Daria um seminário falar sobre essa falta.

O céu não é o limite

Quero um mundo legal para todo mundo, não só pra mim ou pra minha família. Não quero viver numa bolha. A literatura me possibilitou sonhar. Me possibilitou pensar que o céu não é o limite, que tem algo além do céu.

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