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Página Cinco

REPORTAGEM

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A odisseia de um refugiado e o drama que é escapar de um país

Colunista do UOL

28/05/2021 08h33

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Na 81ª edição do podcast da Página Cinco:

- Entrevista com Fabien Toulmé, autor de "A Odisseia de Hakim" (Nemo) - resenhas de "Não Era Você Que eu Esperava", "Duas Vidas" e os volumes 1 e 2 da trilogia de Hakim.

- "Traço de Giz" (Pipoca & Nanquim) e "Tangências" (Conrad), de Miguelanxo Prado, "Luzia", de Zé Wellington e Débora Santos (Draco), e "Trilogia Gatilho", de Pedro Mauro e Carlos Estefan (Pipoca & Nanquim), nos lançamentos.

Alguns destaques da entrevista:

Por que contar essa história?

Sentia de maneira intelectual o drama, mas não era uma coisa visceral. Para apagar a sensação de diferença entre os dois sentimentos [compara com o que sentia sobre um acidente de avião], decidir ir atrás de uma pessoa para me contar o percurso dele de como chegou a correr o risco de morrer para fugir do seu país.

Tensão e leveza

Os pontos fortes dessa história são momentos bem críticos. Desde o começo, decidi que não queria contar só esses momentos, que são os mais fáceis de narrar em termos de quadrinho, porque a força da história já vem do próprio momento. Queria me focar também nos outros momentos, que são mais leves, engraçados, alegres. Queria contar essa história no todo. Mesmo nas fases mais complicadas, você vive momentos que podem ser considerados mais leves.

Ajuda a Hakim

A gente se dá conta que existem muitas pessoas querendo ajudar. Isso dá fé no ser humano. Às vezes somos muito críticos com o sistema político de um país, a maneira como as pessoas votam, mas quando damos um zoom nessa situação, notamos que o ser humano também tem um lado muito bom, muito acolhedor.

Quando o país desmorona?

Acho que você sempre espera que a coisa vá melhorar para ficar no seu país... O que faz alguém fugir de seu país, concretamente, é a miséria e o risco de morte. Acho que até o último momento ele teve esperança de que poderia sair do país dele de modo pontual e voltar quando tudo isso acabar.

Recepção na França

Um sinal positivo é que até uma revista aqui de extrema direta fez uma crítica elogiosa desse quadrinho. Deve ser um bom sinal.

Olhar

Sempre fui muito o estrangeiro em outro país. Sei muito o que é chegar numa outra cultura e tentar se adaptar. O que mudou é saber exatamente como é essa viagem de fugir do país. Tinha ideias, talvez falsas, de imaginar como poderia ser, mas não que era algo tão duro, longo, sofrido.

Trocar a engenharia pelos quadrinhos

Quanto mais avançava nessa profissão, mais eu via que estava perdendo meu tempo. Eu não gostava de ter horário em escritório, não gostava da responsabilidade dos projetos, não gostava de dirigir pessoas, de obras com muito dinheiro em jogo. Não tinha nada a ver comigo. Via que não podia continuar porque não fazia sentido. Estava no Brasil, em Fortaleza, era gerente de empresa, mais ou menos no topo do que poderia esperar com esse diploma, e mesmo isso não me agradava. Nesse momento comecei a amadurecer a ideia de ser quadrinista. Encontrei quadrinistas em Fortaleza e achei corajosa essa escolha de vida num país que não é tão voltado aos quadrinhos, não tanto como na França, pelo menos. Isso meu de força, coragem, e um dia decidi deixar essa empresa no Brasil e voltar para a França para tentar ser quadrinista.

Brasil

Foi aí que conheci o Flávio Coli, que impactou muito a minha maneira de ver os quadrinhos. Foi um dos quadrinistas que me deu vontade de desenhar. Do ponto de vista artístico, o Brasil me ajudou a fazer a transição da engenharia... O Brasil é um país, tem uma cultura, que faz muito parte de mim. Quando vou ao Brasil, tenho a sensação de voltar pra casa.

Brasil hoje

Pra mim, o mundo tem que ser uma coisa aberta. Tem que ter trocas de experiências, trocas de cultura. Tem que ajudar a quem precisa. E Bolsonaro é exatamente o oposto da minha maneira de ver [o mundo], então eu lamento.

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