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Página Cinco

REPORTAGEM

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O corpo e as muitas violências contra as mulheres: papo com Cristina Judar

Colunista do UOL

21/05/2021 08h44

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Na 80ª edição do podcast da Página Cinco:

- Entrevista com Cristina Judar, que acaba de lançar o romance "Elas Marchavam Sob o Sol" (Dublinense).

- Coletânea de Robert Aickman.

- "Nossos Cachorros Tinham Enterro de Gente", de Lucas Ribeiro (Selo do Burro), "Na Escuridão Somos Todos Iguais", de Wander Shirukaya (CEPE), e "O Lugar", de Annie Ernaux (Fósforo), nos lançamentos.

Alguns destaques da entrevista:

17 para 18 anos

Essa idade é bem determinante. Uma série de pressões, de cobranças e definições são colocadas nesse momento. Você tem que saber qual é a sua profissão, ter um corpo preparado para aceitação, tudo delimitado para que você possa se encaixar em certo sistema. Quis trazer muito dessas opressões, dessas pressões e dessas cobranças que acontecem.

Vivência

Esse olhar está comigo desde sempre, considerando que a vivência mulher me atravessa. Eu pude buscar muitas referências próprias para construir tudo isso. Ainda mais no momento em que a gente está, histórico, político, tudo o que estamos vivenciando hoje, acho que não tem como não falar de certas questões. Ao escrever, ao dar vazão para a literatura, algumas questões gritam mesmo. Elas expressam muito do que já vivi, presenciei e continuo presenciando.

Violências

São pequenas violências que estão ali embutidas no dia a dia. Quanto estamos amortecidos para isso? E se a gente pensar na vida inteira de uma mulher, é muito difícil, é muito duro. São encarceramentos que acontecem. São aprisionamentos que acontecem. Daí, quando a mulher vai ficando mais velha, já trocam por outras questões: a juventude eterna, o corpo?

Padrões

É como se vivêssemos uma era em que as diferenças são desvalorizadas, a identidade é desvalorizada, e tudo o que for mais padronizado possível, massificado possível, é o aceitável.

Vozes e estrutura fragmentada

Eu sabia que ia trabalhar muito a voz da Ana, da Joan e que a avó teria uma participação forte. Conforme ia escrevendo, vieram essas outras vozes. Pude salientar aspectos que não são os mais óbvios numa narrativa sobre jovens nessa idade. Essa maneira fragmentada me facilitou para que eu pudesse trazer elementos que entram em choque até com o que esperam ao ler.

Perseguição, tortura e morte

Se a gente direcionar o nosso olhar para a vivência das mulheres trans no país, o quanto essas pessoas são perseguidas, mutiladas, e isso diariamente... O Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo. Num livro que fala sobre nossa realidade, que traz a vivência de mulheres e dissidências, não teria como não colocar as vozes dessas mulheres torturadas.

Controle do corpo

Nos é imposto, desde cedo, quais partes são específicas para o quê. É determinado que parte X, Y e Z sejam usadas para o prazer, as outras partes já não podem. Então temos que seguir essas regras super específicas. Faz muito sentido você ressignificar partes do seu corpo que disseram que não poderiam ser utilizadas para o prazer.

Crimes reais

Essa é outra necessidade que pra mim ficou muito clara conforme trabalhava no texto. Não tinha como ignorar essas questões que são muito atuais, muito presentes. Foi muito importante colocar não só o caso da Marielle, mas da Dandara, uma travesti que foi morta no meio da rua, da Luana Barbosa também, uma mulher lésbica morta por policiais. Quis trazer um pouco dessas histórias reais do nosso tempo.

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