Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Mulheres da guerrilha e as histórias estraçalhadas: papo com Claudia Lage
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Na 74ª edição do podcast da Página Cinco:
- Entrevista com Claudia Lage, autora de "O Corpo Interminável" (Record), vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura de 2020.
- Combo de novidades da Nepomuceno Filmes.
- "Histórias ao Redor", de Flávio Carneiro (Cousa), "Um Fascista no Divã", de Marcia Tiburi e Rubens Casara (Nós), e "O Sussurro das Estrelas", de Naguib Mahfuz (Carambaia), nos lançamentos.
Alguns destaques da entrevista:
Bolsonaro e a ditadura
Ele deixou bem claro. Ele nunca escondeu a ligação dele com a ditadura, o gosto pela tortura. Ele sempre deixou bem claro o sonho dele qual é. Todas as tentativas que ele fez até agora de destruir a democracia deixaram danos mesmo.
Comissão Nacional da Verdade
Quando a gente se depara com uma realidade tão brutal, com crimes, é impossível isso não ter uma consequência. Você não pode deixar por isso mesmo.
Raízes do livro
...no corpo estava aquela memória. E foi isso que me impactou, me impressionou. Mas eu era uma adolescente. Devia ter uns 17 anos. Anos depois, dava aula para uma turma incrível, para várias senhoras de 60 e poucos anos. Elas nunca falavam no assunto, da repressão ou da guerrilha, especificamente. Um dia, uma delas escreveu um conto sobre uma personagem que foi torturada e fazia análise para se recuperar. No dia em que a gente conversou sobre esse conto, descobri que todas elas tinham sigo guerrilheiras.
A cumplicidade de tantos
O pai da Melina e a mãe da Melina são personagens que pra mim se tornaram reais. Eu vi essas pessoas quando vi o golpe acontecendo, a eleição do Bolsonaro se aproximando... Pessoas que são seus vizinhos, que você considerava inteligentes, que consideravam a democracia como um valor, fizeram um contorcionismo para justificar o apoio tanto ao golpe em 2016 quando ao Bolsonaro em 2018.
História perdida
Vendo os relatos de filhos de ex-guerrilheiros em busca da história dos pais, notava que eles conseguiam muito pouco. Fui incorporando isso à linguagem, à estrutura do livro. Já se começa a busca sabendo que é uma perda, que é a busca de uma perda. As lacunas começaram a aparecer mais do que a própria história.
Misoginia dos porões
O corpo nu da mulher era ridicularizado. A menstruação era ridicularizada. Deixavam sem tomar banho para ficar com cheiro ruim e xingavam de porca. E havia muita exposição do corpo: os seios, a vagina.
O passado interminável
O que aconteceu no passado não fica para trás. Se não traz pra memória, a gente traz no corpo, no inconsciente. Vai vir à tona, como estamos vendo vir à tona essas amnésias toda. Tem tudo a ver com essa anistia, com o esquecimento forçado da história brasileira, esse apagamento. Tem tudo a ver com o nosso passado.
Os culpados de hoje
Eu tenho esperança. Cedo ou tarde eles vão pagar. Não sei quando. E não por justiça, mas por ser algo que atinge não só o Brasil, mas começa a incomodar o resto do mundo. Acho que isso dá uma esperança de que possa ter uma consequência.
Anistias
Pensando na história do Brasil desde o nosso início, a gente vive em anistias constantes. Por isso que digo que pode ser uma falsa esperança. Porque a gente já viu a história mostrar o contrário, que sempre há anistia.
O livro e o leitor
A gente lê o que a gente é. A gente lê como está no momento. A gente lê o que a gente pensa e se identifica.
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