Futebol ao vivo faz streaming quadruplicar base de assinantes no Brasil
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A mais nova corrida das plataformas de streaming envolve conteúdo ao vivo —principalmente de esportes. "O público ama isso", disse Ted Sarandos, coCEO da Netflix, na mais recente conferência com investidores, realizada na última semana. Ok, justo. A paixão pelo futebolzinho de domingo não é novidade. A questão é: o quanto isso realmente tem impacto positivo no crescimento e na retenção de assinantes para esses serviços de vídeo?
Números mais específicos ainda são raros, com as grandes empresas escolhendo a dedo quais divulgar. No entanto, a plataforma Zapping abriu com exclusividade a esta coluna de Splash alguns dos resultados que obteve no Brasil, com a transmissão do Campeonato Paulista de Futebol. E os dados mostram, sim, o impacto positivo das atrações esportivas.
Segundo a companhia, a base de assinaturas no nosso país cresceu em 320% com o futebol. Ou seja, mais do que quadruplicou em poucos meses. Ainda que seja um serviço pequeno comparado a gigantes como Netflix e Amazon Prime Video, houve um impacto substancial —um salto na casa dos milhares, de acordo com a apuração da coluna.
"O esporte, principalmente o futebol, é um grande catalisador e fideliza os usuários", conta Chico Vargas, coordenador da Zapping no Brasil.
A plataforma está no nosso país desde setembro de 2023, criada a partir do que era a Guigo TV. Trata-se de uma vMVPD, sigla em inglês que quer dizer "distribuidor virtual de programação de vídeo multicanal". Na prática, é uma TV paga totalmente pela internet, via streaming, sem a necessidade de cabos e antenas. Para o usuário, basta abrir o app e mudar de canal —como se fazia antigamente.
Há algum tempo, a companhia investe em atrações próprias, originais, para além da programação dos canais lineares tradicionais. Um exemplo é o Eurovision, competição europeia de canções, que foi transmitido pela Zapping com exclusividade em 2024. Para o Paulistão 2025, a empresa entrou em um "pool" de streamings menores, incluindo também o UOL Play e o Nosso Futebol+, que garantiram os direitos de 92 partidas —sendo 54 delas exclusivas e 11 com os quatro grandes clubes do estado.
Quem são esses novos assinantes?
"A análise etária revelou que 57,55% têm entre 18 e 35 anos, sendo que 42% estão na faixa de 25 a 35 anos. Entre os mais velhos, 10% possuem entre 50 e 60 anos", diz Vargas. O executivo ainda compartilha que a grande maioria (84%) preferiu o pacote mais barato, o Lite Plus, com 45 canais, incluindo as emissoras mais populares. Apenas 16% adquiriram o Full, com 110 canais lineares.
A Zapping também levantou como esses novos assinantes têm usado a plataforma, para além do esporte ao vivo. No total, foram mais de 680 horas de transmissão assistidas, com uma média de 18 horas por pessoa.
Na cidade de São Paulo, as emissoras abertas dominaram a preferência desse público, com 56,54% do tempo total visto. A Record (que também exibiu o Paulistão) ficou em primeiro lugar, seguida por TV Globo, SBT, Band e RedeTV!. Já os canais esportivos vieram logo atrás, com 36,15% do consumo. A ESPN liderou nesse segmento, à frente do SporTV.
Entre os canais de notícias, que somaram 7,31% do tempo de consumo, a preferência foi pela GloboNews. Na sequência vieram CNN Money, JP News e BandNews. O levantamento também apontou os dispositivos mais usados por essas pessoas: as smart TVs dominaram, com 72% do tempo. Computadores ficaram em segundo, com 6,66%, seguidos pelos celulares, com 6,24%.
Na visão da empresa, tudo isso demonstra que quem chegou pelo Paulistão continuou na base —ainda que eles não revelem dados de churn, ou seja, quantas pessoas estão cancelando a assinatura em relação ao total de usuários. "Está dentro do normal", se limita a responder Vargas.
Problemas em partida do Corinthians
Nem tudo são flores: o ao vivo, com grande demanda, ainda tem os seus percalços. No caso da Netflix, a luta entre Mike Tyson e Jake Paul, em novembro do ano passado, apresentou problemas para usuários em algumas regiões dos Estados Unidos, principalmente na costa leste do país. Na época, parte da imprensa norte-americana classificou o episódio como "fiasco".

No caso da Zapping, a questão surgiu em fevereiro, na partida entre Novorizontino e Corinthians, quando houve queda na transmissão. "Foi um grande desafio para a gente, mas o nosso time teve muita resiliência para resolver esse problema, tanto com os backups de CDN [rede de servidores que entrega conteúdo da internet de forma mais rápida e estável ao usuário], quanto com o atendimento dos usuários pelo SAC, onde todos os colaboradores trabalharam para solucionar o problema", explica Chico Vargas. "Fomos transparentes desde o primeiro momento, comunicando os usuários sobre o ocorrido e tomando todas as medidas necessárias, inclusive ressarcimentos quando cabíveis."
Essa é a dor do crescimento [...] Como empresa de tecnologia, estamos expostos a esse tipo de acontecimento pelo alto volume de tráfego e grandes picos de audiência. Costumo dizer que saímos desse episódio mais fortes do que entramos. Com cada vez mais usuários na Zapping, tomamos a decisão de ampliar a nossa estrutura de distribuição com CDNs mais robustas, além de fortalecer nossos protocolos de contingência.
Chico Vargas, da Zapping, sobre os problemas na transmissão de Novorizontino x Corinthians
Mais esportes no streaming
Com o sucesso da empreitada este ano, a Zapping pretende seguir com os investimentos no ao vivo. "Novas oportunidades podem surgir e estamos prontos para abraçá-las. Tivemos uma reunião de avaliação com a FPF [Federação Paulista de Futebol] e LiveMode [gerenciadora dos direitos esportivos] e ela foi superpositiva. Eles até deram possibilidades e caminhos para que a gente transmita outras competições da entidade", revela Vargas.
Eles não são os únicos. A Amazon expandiu o cardápio esportivo em 2025. Além do basquete da NBA e a Copa do Brasil de futebol, o Prime Video garantiu um jogo por rodada do Brasileirão —e com narração de Galvão Bueno. Na Disney, as transmissões da ESPN são o principal atrativo do Disney+ Premium, que é o pacote mais caro da plataforma.
Já a Netflix passou a trazer todo o cardápio da WWE, uma mistura de luta com entretenimento roteirizado. A plataforma também terá exclusividade nas exibição das próximas duas Copas do Mundo de futebol feminino (2027 e 2031) nos Estados Unidos. "Nossas aventuras ao vivo têm sido principalmente nos EUA, mas pretendemos expandir a capacidade de fazê-lo em todo o mundo nos próximos anos. Estou muito satisfeito com o progresso até agora e animado com o futuro dos esportes ao vivo e não esportivos", explica Ted Sarandos, coCEO da pioneira do streaming, na semana passada.
"O evento ao vivo é atrativo para aquele público que ainda não conhece a plataforma, e por isso, é interessante ter eventos ao vivo", afirma Chico Vargas, da Zapping, em entrevista a esta coluna. "O investimento pode até ser grande, mas é uma boa alternativa para gerar crescimento de base e fidelizar usuários. Porém, o conteúdo precisa ser atrativo, se não, o churn tende a aumentar. É como um jogo de gato e rato."
No fim das contas, a disputa pela sua atenção (e pelo seu dinheiro) está tão acirrada quanto o placar em campo —e só tende a esquentar.
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