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Mauricio Stycer

Demissão de Mion por "mau comportamento" mostra fraqueza da Record

Marcos Mion se emociona na final da 12ª temporada de "A Fazenda"
Imagem: Marcos Mion se emociona na final da 12ª temporada de "A Fazenda"

Colunista do UOL

28/01/2021 11h35

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Na falta de uma boa explicação para a decisão de demitir Marcos Mion, tudo converge para uma insatisfação de Marcelo Silva, vice-presidente artístico e de programação da Record, com o comportamento do apresentador.

O rompimento do contrato, comunicado numa reunião com os executivos Mafran Dutra e Paulo Franco, ainda não foi explicado à mídia e aos espectadores. Houve apenas o vazamento de informações, sem atribuição de fonte ("em off", como se diz), para jornalistas do meio.

Os relatos vazados são de que Mion teria feito reclamações públicas sobre a direção da "Fazenda", se vangloriado mais do que devia pelo sucesso de acordos comerciais e cometido alguns erros na condução do reality show.

Estes motivos, se confirmados, caracterizam uma punição escolar, por "mau comportamento". O que a Record já fez com outros profissionais, como Geraldo Luis e Britto Jr, que manifestaram publicamente insatisfação com a emissora. O primeiro criticou ao vivo a edição do seu programa; o segundo, falou nas redes sociais de atritos com o diretor do reality.

Pensando sobre a lógica estritamente racional, dos negócios, a demissão envolve mais riscos do que seria aceitável num momento de tantas dificuldades.

Mion tinha contrato para fazer mais uma temporada da "Fazenda" após a edição extraordinariamente bem-sucedida de 2020. Afastá-lo desta forma, neste momento, quando a emissora tinha tudo para capitalizar o resultado do ano passado, está longe de ser a decisão mais sensata.

Mesmo imaginando que Mion deixasse a Record ao final de 2021, o que não passava de especulação, não faz sentido o argumento de que seria melhor tirá-lo já da emissora. O apresentador se tornou a face mais visível do sucesso da edição passada e, claro, seria um excelente garoto-propaganda na captação de anunciantes para o programa deste ano.

Em entrevista ao UOL no final do ano passado (veja abaixo), o apresentador também se disse disposto a desenvolver um outro projeto, de um talk show, na Record. Se a emissora quisesse, não iria trabalhar apenas três meses no ano.

Mion tornou público numa entrevista que foi responsável por um contrato importante da emissora com o TikTok, e não mentiu. Qual é o problema? Faustão, na Globo, em mais de uma ocasião deixou claro que teve papel em acordos comerciais da emissora.

A não ser que a Record revele algum malfeito extremamente grave cometido por Mion, que as pessoas desconhecem, esta demissão ficará sob a sombra de um problema pessoal.

Como se sabe, a necessidade de afirmação exagerada de poder sobre os subordinados pode ser vista como um sinal de fraqueza.

Mion quebrou um tabu na "Fazenda" ao falar, mais de uma vez, da Globo e do "BBB". Fez referências ao vivo a Tiago Leifert e Pedro Bial e falou sobre outros programas da emissora concorrente. Bial, de sua parte, o elogiou publicamente também. "Não sou espectador (da 'Fazenda'). Mas sou um admirador do Mion, um bicho de televisão, um cara que faz aquilo com grande categoria, é um mestre do veículo".

Após Britto Jr. e Roberto Justus, que não deixaram marcas significativas, Mion oxigenou "A Fazenda" ao conseguir tornar menos impessoal e engessada a tarefa de apresentar o reality. A fácil comunicação com os peões, a sua agilidade ao vivo e a descontração na leitura do telempromter mostraram que ele tinha as características necessárias para comandar o programa.

Na entrevista ao UOL, ao final da edição, Mion concordou que o programa ainda é muito engessado. "É um formato", lembrou. Mas observou que por seu "um artista muito inquieto", tem batalhado para relaxar algumas coisas. "Eu vou abrindo um espacinho aqui, eles vão abrindo um espacinho ali. Para A Fazenda ficar mais com a minha cara. Depois de três a anos, sinto mais flexibilidade", disse.

Mas evitou reclamar da emissora: "A Record está se apropriando cada vez mais com a linguagem do brasileiro, tentando mexer mais. Mas concordo que poderia ser mais", disse. "É nítido a liberdade que tenho, com as minhas citações, piadas, que tornam o programa mais leve. Nunca ouvi nada contra. Citei o Chewbacca. Tenho total liberdade", disse.