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Mauricio Stycer

Tributo em tom de propaganda a Boni é um momento constrangedor da Cultura

A TV Cultura exibiu neste sábado (19) o especial "Boni e a TV no Brasil", produzido pela TV Vanguarda - Reprodução / Internet
A TV Cultura exibiu neste sábado (19) o especial "Boni e a TV no Brasil", produzido pela TV Vanguarda Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

20/12/2020 00h58

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"Boni e a TV no Brasil" começa errado no título. Pelo que o programa mostrou, um título mais correto seria "Boni e a TV Globo". O trabalho do executivo na TV carioca, onde atuou por 31 anos, não é apenas o eixo central, mas o tema quase único do especial.

Produzido pela TV Vanguarda, afiliada da Globo em São José dos Campos (SP) que pertence a Boni, o programa foi anunciado pelo próprio canal como uma "homenagem" aos 85 anos do executivo, completados em novembro. A previsão é que seja exibido em 26 de dezembro, às 14h10, depois do "Jornal Hoje". Até aí, tudo bem.

A produção caprichada, com depoimentos de duas dezenas de figuras importantes elogiando Boni, transformou o que seria um vídeo caseiro para exibição no dia do aniversário em um programa de televisão. Sem problemas. A Vanguarda está no papel e no direito dela de festejar o seu proprietário.

Boni é chamado de "gênio" em quase uma dezena de depoimentos. É um excesso de bajulação constrangedor. Pelo que fez na Globo, concordo que seja o mais importante executivo da TV brasileira. Mas o excesso de elogios reiterados numa sequência de falas gravadas resulta em propaganda de má qualidade.

Mais estranho ainda é ver próprio Boni anunciando os temas do programa. Como se fosse o narrador, ele lê no teleprompter as "cabeças" que vão orientar os depoimentos - sobre novelas, jornalismo, negócios etc. Ou seja, passa a impressão que é uma homenagem comandada pelo homenageado.

Após o anúncio de que a TV Vanguarda produziu e exibirá o programa, a TV Cultura decidiu também levá-lo ao ar. Desde 2019, quando José Roberto Maluf assumiu a presidência da Fundação Padre Anchieta, que gere a Cultura, Boni também comanda o conselho de gestão do canal público paulista.

Por tudo que fez na Globo, para o bem e para o mal, Boni merece uma investigação jornalística que vá além da propaganda rasa. E a TV Cultura, pelo seu papel como TV pública, não deveria exibir conteúdo tão laudatório.