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Mauricio Stycer

Globo mostra bastidores e enaltece cobertura da pandemia em documentário

Jornalistas que cobrem a entrada do Palácio da Alvorada no "cercadinho" são hostilizados por apoiadores do presidente Bolsonaro - Reprodução
Jornalistas que cobrem a entrada do Palácio da Alvorada no "cercadinho" são hostilizados por apoiadores do presidente Bolsonaro Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

03/12/2020 14h56

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Em mais um investimento na produção de documentários próprios, o Globoplay lançou nesta quinta-feira (03) "Cercados - A imprensa contra o negacionismo na pandemia".

Dirigido por Caio Cavechini, o filme de quase duas horas mostra os muitos embates entre o presidente Jair Bolsonaro e a mídia na cobertura da pandemia de coronavírus, entre março e setembro de 2020.

"Cercados" é uma referência à área gradeada, apelidada de "cercadinho", em que são mantidos os jornalistas que cobrem a entrada do Palácio da Alvorada, em Brasília.

O documentário olha prioritariamente para a própria TV Globo, mas mostra também o ponto de vista de profissionais de três jornais (Folha, Estadão e O Globo). Outras emissoras, veículos digitais, revistas e jornais não são mencionados no filme.

Jornalista e cineasta, participante da primeira equipe do "Profissão Repórter", Cavechini é também o diretor de "Marielle, O Documentário", lançado no início deste ano.

O melhor de "Cercados" é a oportunidade de ver os bastidores da produção do "Jornal Nacional". Explicitamente atacado pelo presidente Jair Bolsonaro, o telejornal da Globo adotou uma postura muito elogiável durante a pandemia, tanto na cobertura extensiva dos fatos quanto no combate à desinformação e na crítica à negligência das autoridades.

Bonner - Reprodução / Internet - Reprodução / Internet
William Bonner, editor-chefe e apresentador do JN
Imagem: Reprodução / Internet

Principal rosto desta cobertura, William Bonner é também um dos personagens mais destacados pelo documentário. Em uma cena marcante, o apresentador se penitencia pelo tom adotado no telejornal um dia antes, ao relatar a morte de um paciente numa UTI usando um respirador improvisado com saco plástico.

"Disse isso num tom que me incomodou. Pode ter sido uma tentativa improvisada, heroica, de salvar uma vida. Não enxerguei isso com clareza", diz.

Em outra passagem curiosa, Bonner defende que o JN não noticie uma frase de Bolsonaro sobre o telejornal da Globo dita no tal cercadinho da imprensa no Alvorada. Ao que Ricardo Vilella, diretor executivo de jornalismo, responde lembrando que a Globo, assim como a Folha e o UOL, deixaram de estar presentes no local por falta de segurança, mas se comprometeram a continuar noticiando o que ocorre lá.

Por fim, Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo, divide com Bonner os créditos pelo editorial lido no telejornal que noticiou as 100 mil mortes de covid-19 no Brasil. O JN questionou se Bolsonaro estaria cumprindo o que a Constituição determina em matéria de saúde - o que enfureceu o presidente.

Cavechini mescla estes bastidores com cenas do dia-a-dia de repórteres e fotógrafos na cobertura da pandemia, tanto em Brasília quanto na porta dos hospitais. Há imagens muito tocantes. Também dedica um bloco emocionante aos profissionais do jornalismo da Globo que foram internados e superaram a covid-19.

"Cercados" termina de forma algo melancólica, lembrando que "depois de cinco meses de cobertura, o noticiário dedicado à pandemia perdeu audiência e espaço em jornais, TV e internet".