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Mauricio Stycer

Roteiristas de série sobre Marielle divergem de Padilha e deixam o projeto

A vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018 - reprodução
A vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018 Imagem: reprodução

Colunista do UOL

24/10/2020 12h25Atualizada em 24/10/2020 20h36

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Quatro roteiristas da série de ficção sobre Marielle Franco (1979-2018) pediram afastamento por divergências sobre a condução do projeto, idealizado por Antônia Pellegrino e dirigido por José Padilha. O projeto tem coprodução do Globoplay.

A notícia foi publicada originalmente pela jornalista Telma Alvarenga, da coluna de Ancelmo Gois, em "O Globo", e confirmada por este colunista.

A equipe do projeto é formada por duas pesquisadoras, quatro roteiristas e um diretor, todos negros. Dos sete, deixaram o trabalho os quatro roteiristas.

Em nota (veja abaixo), a Globo disse que os roteiristas seguem desenvolvendo outros projetos para a emissora e "serão substituídos seguindo os mesmos critérios de talento e diversidade que orientam essa obra e todas as produções e coproduções do Globoplay e dos Estúdios Globo".

Para muitos, a formação desta equipe seria um exemplo da prática do "tokenismo", ou seja, uma ação apenas simbólica destinada a responder à crítica de falta de diversidade racial e inclusão na produção.

O projeto está em fase muito inicial. Nenhum capítulo ainda está completamente escrito. As divergências seriam sobre os caminhos dramatúrgicos da série.

Esta composição da equipe foi resultado dos muitos questionamentos surgidos assim que o projeto foi anunciado, em março deste ano.

Marielle Franco era vereadora pelo PSOL, um partido de esquerda, e pautou sua atuação por uma postura muito crítica em relação às posições da direita. Negra e feminista, sempre militou por políticas de inclusão racial e social.

Desde o início houve muitas críticas ao envolvimento de Padilha no projeto. Ele sempre foi visto pela esquerda como uma pessoa de direita. Esta perspectiva se intensificou com a realização para a Netflix da série "O Mecanismo" (2018), que glorifica a operação Lava Jato e o então juiz Sérgio Moro.

Outra crítica intensa deveu-se ao fato de os três principais envolvidos na série, a criadora do projeto, Antonia Pellegrino, o diretor Padilha e o autor indicado pela Globo para supervisionar os trabalhos, George Moura, serem brancos.

A crise que surgiu neste momento mostra que estes questionamentos não foram superados.

Globo diz que roteiristas seguem em outros projetos

"O projeto Marielle foi apresentado ao Globoplay por José Padilha e Antonia Pellegrino, com a concordância da familia. Aprovado o seu desenvolvimento, foi montada uma sala de roteiristas com sete integrantes. Na semana retrasada quatro roteiristas comunicaram individualmente seu interesse em deixar o projeto. A empresa, como sempre faz, respeitou a vontade dos artistas e concordou com a saída, mantendo em vigor todos os contratos (eles não foram demitidos nem pediram demissão). Os autores em questão seguem desenvolvendo outros projetos. Os produtores executivos Antonia Pellegrino e José Padilha e o diretor Jeferson De seguem à frente do projeto, que em breve será reforçado por novos talentos. Os quatro roteiristas serão substituídos seguindo os mesmos critérios de talento e diversidade que orientam essa obra e todas as produções e coproduções do Globoplay e dos Estúdios Globo."