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Mauricio Stycer

Danni Suzuki dá detalhes sobre a escolha absurda do elenco de Sol Nascente

Colunista do UOL

31/08/2020 15h04Atualizada em 01/09/2020 00h38

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Assuntos mal resolvidos não morrem. E agora, com a ajuda das redes sociais, costumam voltar à pauta, atormentando quem deseja esquecer deles. É o caso da escalação do elenco de Sol Nascente, novela da faixa das 18h, exibida pela Globo entre 29 de agosto de 2016 a 21 de março de 2017.

A novela teve três autores: o veterano Walther Negrão e, assinando como autores principais pela primeira vez, Suzana Pires e Júlio Fischer. Negrão enfrentou problemas de saúde durante a novela e parte da trama foi escrita pelos dois novatos sob supervisão de Silvio de Abreu.

A novela registrou média de 21 pontos. Muito menos do que Eta Mundo Bom, que a antecedeu e marcou 27 pontos de média. Foi uma decepção.

Mas o grande problema de Sol Nascente aconteceu antes mesmo da estreia. A trama se passava numa cidade litorânea, a fictícia Arraial do Sol Nascente e tinha como protagonistas uma família de descendentes de japoneses.

Para espanto geral, os dois principais personagens deste núcleo não foram interpretados por atores de ascendência japonesa ou oriental. O patriarca da família, o japonês Kazuo Tanaka, foi vivido por Luis Melo. E sua filha, Alice, foi vivida por Giovana Antonelli.

Para explicar esta estranha escalação, o texto da novela informou que Alice foi criada como filha adotiva por Tanaka.

Os muitos protestos ocorridos em 2016 retornaram com força esta semana, depois que a atriz Danni Suzuki contou que Walther Negrão criou a personagem principal de Sol Nascente inspirada nela e para ela. A atriz, porém, não ganhou o papel.

A declaração de Dani Suzuki foi feita em entrevista a também atriz Bruna Aiiso, numa live em junho, e redescoberta neste domingo. A Globo afirma desconhecer as informações prestadas pela atriz (veja no fim do texto).

O noticiário da época diz que a escolhida foi Maria Casadevall. A atriz, porém, desistiu, argumentando que preferiu fazer um papel secundário na série Vade Retro. O papel principal de Sol Nascente ficou então com Giovanna Antonelli.

Em entrevista ao Ego, na época, Negrão disse: "Tentamos achar nos testes uma protagonista japonesa, mas não encontramos uma com status de estrela. Eu precisava disso, a Globo queria uma estrela. Novela tem um custo muito alto, não dá para arriscar".

Na live, Danni Suzuki disse: "Eu era a protagonista da novela. Tinha sido escrita pelo Walter Negrão pra mim. Ele me chamou pra conversar. Pesquisou minha vida. Fez a história de japonês com italiano, que é a minha história. Ela era designer porque eu fiz design industrial, ela surfava porque eu surfava. Enfim, foi toda construída em cima da minha vida real."

Suzuki também disse: "Na época, primeiramente, eles falaram que eu não seria a protagonista porque eles queriam uma menina mais jovem". E, de fato, Maria Casadevall é dez anos mais jovem do que ela. Mas Antonelli é um ano mais velha.

Outro elemento que apimenta este bastidor sobre "Sol Nascente" é que o diretor da novela, Leonardo Nogueira, é casado com Antonelli.

A escalação de Antonelli e de Luis Melo, como um japonês, provocou muitas críticas na época. Um manifesto assinado por cerca de 200 artistas brasileiros de ascendência oriental questionou as escolhas.

O texto pedia o fim da "discriminação étnica que ocorre em algumas produções de audiovisual que retratam o oriental de forma estereotipada, preconceituosa e distorcida da realidade".

Dois anos depois, em maio de 2018, um problema semelhante ocorreria com outra novela que tinha "sol" no título: Segundo Sol, de João Emanuel Carneiro.

Ambientada em Salvador, a novela só tinha protagonistas brancos. Mas desta vez os protestos foram ainda mais fortes. O próprio elenco reclamou, o Ministério Público do Trabalho entrou com uma ação e a Globo reconheceu que precisava "evoluir com essa questão".

Globo: "Critérios de escalação são técnicos e artísticos"

Surpresa com os comentários de Danni Suzuki, a Globo divulgou o seguinte comunicado nesta segunda-feira (01): "Desconhecemos as informações prestadas. Os critérios de escalação das obras da Globo são técnicos e artísticos. São avaliados vários aspectos, como adequação ao perfil do personagem, disponibilidade do elenco, composição total do casting, dentre outros. E essa decisão não cabe apenas a um profissional e sim a um time, composto por autor, diretores e diretoria de Entretenimento da empresa."