Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Elza Soares: a voz que nunca vai se calar
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A primeira vez que estive como Elza Soares, confesso, fiquei impactada. Foi há quase seis anos, quando fui bater um papo sobre a homenagem que ela iria fazer a Gonzaguinha no 27º Prêmio de Música Brasileira, no Theatro Municipal do Rio. A voz rouca, forte, porém, delicada ao falar, contrastava com o timbre rascante, rasgado ao cantar. Duas vozes de uma mesma mulher, ícone de resistência e luta, que nos deixou hoje, aos 91 anos.
Elza não veio a esse mundo a passeio. Ao ouvir a sua voz, todos entendemos que aquela mulher era diferenciada. Basta ver sua trajetória de vida. Sofreu muito, foi julgada, teve perdas dolorosas. Mas também ganhou admiração e passou a ser referência para muita gente. "A carne mais barata do mercado é a carne preta", vem à minha cabeça o refrão doído de "A Carne", naquela puxada gutural que Elza sabia fazer como ninguém. Era forte, a sensação era a de que carregava também o grito de todo um povo.
Mas Elza também era alegria, minha gente! Como não se divertir com o jeito meio malandro da sua interpretação para "Eu Bebo Sim", que virou um dos hinos obrigatórios no Carnaval. A mulher era danada, quebrava estereótipos, chutava o preconceito. Era a dona da banca.
A partida dela me fez voltar mesmo aquele ensaio, de cinco anos atrás, para o show que ela estava prestes a fazer. Entoava "O que é o que é?" e estava radiante pela participação no tributo a Gonzaguinha, a quem tinha enorme respeito. Mesmo sentimento tive ao estar ali com ela. Foram algumas poucas horas, mas o suficiente para entender ainda mais sua grandeza e importância. Sua voz nunca vai se calar.
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