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Marcelle Carvalho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Batoré era um cara do povo, sabia falar e fazer graça para ele

A partida de Batoré é mais uma triste baixa no exército do humor (Foto: Reprodução/SBT) - Reprodução / Internet
A partida de Batoré é mais uma triste baixa no exército do humor (Foto: Reprodução/SBT) Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

10/01/2022 21h52

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Ivanildo Gomes Nogueira. Talvez ele mesmo já nem atendesse se fosse chamado pelo nome de batismo. Afinal, foi como Batoré que o ilustre filho de Serra Talhada, em Pernambuco, ficou conhecido do grande público. Com os braços e pernas tortas, corpo ligeiramente arqueado, o humorista fez do personagem figura fácil no banco da "Praça é Nossa". E foi assistindo ao programa, junto com meu pai, nos anos 90, que gargalhamos juntos, pela primeira vez, com as tiradas dele. "Ah, para ô!", um dos seus bordões mais conhecidos, caiu na boca do povo, que hoje se entristece com a partida do comediante, aos 61 anos, vítima de um câncer.

Batoré não precisava de nada espalhafatoso para fazer rir - exceto as blusas que usava no humorístico do SBT. Tinha um humor escrachado, zombava de si mesmo na pele do personagem, que contava causos de sua vida na capital paulista - inspiração com pezinho na realidade, talvez, já que o artista veio do Nordeste para a região metropolitana de São Paulo na infância. Tornou-se popular justamente por fazer graça sem ela ser pretensiosa ou "cabeça". Era um cara do povo, sabia falar e fazer graça para ele.

Surpresa foi vê-lo encarar um papel diferente daquele que ficou conhecido pelo público. Batoré delegado em novela da TV Globo? Soava estranho e até curioso. Olhei com certa desconfiança, confesso. Até Queiroz entrar em cena em "Velho Chico" (2016). Não consegui mais pensar no artista como o Batoré da "Praça". O sujeito era outro e, com esmero, foi dando conta daquele 'cabra danado' que vivia de tramoia com os coronéis da região na história de Benedito Ruy Barbosa, Edmara Barbosa e Bruno Luperi. E ainda teve o governador Pimpo, na série "Cine Holliudy" (2019), que também andava de conchavos com o prefeito da cidade para casar o filho com a enteada dele. Foi divertido ver Batoré além de "A Praça é Nossa", programa, aliás, que voltou a fazer, em 2019, após uma desavença com Nóbrega, que fez com que ficassem sem se falar por 13 anos.

É, gente, o humor vem perdendo sua graça. Paulo Gustavo, Marina Miranda, Caike Luna, ano passado, fizeram o riso virar lágrima. Agora Batoré. Justamente nesse momento desolador que estamos atravessando. Com a pandemia ainda presente, além da polarização em todas as esferas da sociedade, precisamos ainda mais de quem nos faça rir, de quem ajude a tornar a vida um pouco mais leve. Os dois últimos anos não estão sendo fáceis e sem o olhar atento do humorista para transformar as situações e espalhar sorrisos fica ainda mais difícil.

A partida de Batoré faz a gente perder o rebolado. É mais uma baixa nesse exército do humor. Porém, penso que a última coisa que um comediante deve querer é seu público triste. Ele que sempre aprontou todas para ouvir nossas gargalhadas, não há de querer o contrário. O momento não é festivo, eu sei. Mas lembrar das inúmeras vezes que o humorista fez a nossa alegria, pode colocar um (leve) sorriso em nosso rosto. Mesmo que seja dividindo espaço com a lágrima da saudade.