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Marcelle Carvalho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Juliette e a difícil arte de se equilibrar na fama repentina

Juliette nos bastidores da Globo (Divulgação) - Reprodução / Internet
Juliette nos bastidores da Globo (Divulgação) Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

10/01/2022 04h00

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Que Juliette é um fenômeno, ninguém discute. A vencedora do "BBB 21" tem um séquito de 33 milhões de seguidores no Instagram, ganhou documentário, cantou ao lado de artistas importantes, gravou disco, fez inúmeras campanhas e, no fim do ano, ainda foi eleita "Personalidade da Internet" no "Melhores do Ano" da TV Globo. Uma trajetória para ninguém botar defeito. Mesmo assim, a paraibana revelou no podcast "Prazer", de Renata Ceribelli, que se sente insegura, recorreu à terapia após ficar famosa e que sorria mais antes da fama. Alguma surpresa nisso? Nenhuma.

Acredito que a fama quando surge de forma repentina, principalmente, pode ser um choque, pode desorientar. Você vive durante anos em uma determinada realidade e, da noite para o dia, por algum motivo ou situação, passa a ser conhecido por um mundo de gente. Todos querendo saber mais sobre sua vida, de olho em tudo que faz, controlando cada passo que dá. Não deve ser nada fácil, de repente, não poder ir à esquina de casa, com uma roupa qualquer, cabelo preso em um coque meia-boca, só para comprar pão na padaria. Ou dar um pulinho no mercado, rapidinho, porque não tem farinha suficiente para fazer um bolo. Ou falar umas bobagens. Tudo acaba sendo pensado.

Cometer um deslize? Deus me livre! Os movimentos passam a ser um tanto calculados. Imagine passar pelo pesadelo do cancelamento? E assim, pouco a pouco, a pessoa corre o risco de ir perdendo a espontaneidade, que pode ser o motivo da admiração de tanta gente. Sair do anonimato repentinamente, às vezes, é levar uma rasteira. Se vir nu. "O que faço agora? Cadê o manual?" Não há. A pessoa é jogada em um mundo onde ela não sabe como se portar. Não estava preparada para dormir de um jeito e acordar de outro, por mais que nos melhores sonhos soubesse como circular nessa nova realidade. Fato é que não dá para se esconder. No caso de Juliette, qualquer coisa que ela faça, dificilmente, passará despercebida.

Mas tenho certeza de que a paraibana vê coisas boas em ser famosa. Sua voz pode ser ouvida por muito mais gente, por exemplo. Não só o seu (belo) canto, mas as causas que gostaria de defender. E não há pecado nenhum em mostrar fraquezas, medos, inseguranças. É legítimo, humano. Quer saber, acho que mostra ainda mais a força que a pessoa tem. E Juliette tem muita. Só no "BBB 21", a gente viu o quanto foi criticada por quase todos os companheiros de confinamento e se manteve de pé - no fim, ainda levou a melhor. Mas foram 30 anos vivendo um tipo de realidade que mudou radicalmente há menos de um ano. Quem não se sentiria um tanto deslocado com a enxurrada de novidades e cobranças que passaram a existir pós-reality?

O que Juliette faz ao expor esse turbilhão de sentimentos é mostrar que nem tudo que reluz é ouro. Quem acredita que uma pessoa catapultada para uma realidade nunca antes vivida não terá receio, dúvidas - até da própria capacidade - que a vida passará a ser um mar de rosas, está enganado. Há muito bônus, sem dúvida. Mas há muito ônus também. É esse lado que o recém-famoso vai ter que aprender a lidar. Sem esquecer, claro, a essência do que o trouxe até onde está. Juliette vem buscando se reconhecer neste mundão novo que se descortinou para ela. Que sua naturalidade, espontaneidade e seu carisma continuem marcando o norte na bússola de sua vida.