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Marcelle Carvalho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Um Lugar ao Sol': Cauã Reymond brilha como o dono da história

Colunista do UOL

08/11/2021 23h43

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Assistir a um primeiro capítulo sem aquela sensação de déjà vu dá um frescor na alma do noveleiro. Não que a gente desgoste de uma reprise. Mas é que tramas novas fazem falta e isso só deu para sentir na real quando elas tiveram que dar um tempo, devido à pandemia. E o horário nobre da TV Globo não poderia ter retornado com inéditas em melhor estilo. A autora Lícia Manzo estreou na faixa com "Um Lugar ao Sol" e, já na largada, mostrou que não deveria ter ficado tanto tempo longe das novelas.

A escritora é sensível, construiu o paralelo das vidas dos irmãos Christian e Renato (ex-Christofer) de forma que ficassem gritantes as diferenças entre eles. Trouxe também o contraponto dos pais: enquanto o biológico rechaçou o gêmeo certinho, o adotivo sempre esteve preocupado com o filho descabeçado. E assim, a trama foi alargando cada vez mais as diferenças entre eles, fazendo com que a gente visse que a única semelhança é apenas o aspecto físico.

Cauã, aliás, vem fazendo um trabalho no detalhe. O que deixa claro o quão bom ator ele é. Por mais que sejam duas pessoas distintas, há que se cuidar para não escorregar no caricato. Principalmente, no gêmeo tresloucado. O ator dá a medida certa ao playboy, que sem causa nenhuma, a princípio, se torna um rebelde de butique. Ao mesmo tempo, a gente percebe que existe sim um incômodo interno que nem mesmo Renato sabe explicar. E que só vem à tona ao saber de sua origem no leito de morte do pai que, durante 18 anos, acreditou ser biológico.

A história, cena a cena, vem pavimentando o caminho de Christian para vestir a pele do irmão. Os revezes, as dificuldades, não tiraram o personagem da retidão, mas foram abastecendo-o para a tomada de decisão que vai mudar a vida dele. Porém, enquanto isso não acontece, a gente percebe que aquele rapaz sisudo, duro, foi quebrado com o frescor de Lara em sua vida. E é bem isso que Andréia Horta trouxe em sua primeira aparição. Quer mais leveza que se deixar levar pela música em uma boa roda de samba? A moça do sorriso cativante já fez o coração de Christian bambear e tem tudo para fazer com que a gente compre o casal e a dor dela quando acontecer a troca dos gêmeos.

O capítulo foi muito bem apresentado. Nota-se a preocupação da direção não só com a estética, mas com a condução dos atores. Maurício Farias, que retorna ao comando de um folhetim após 20 anos, deixou claro nessa estreia que não perdeu a mão. A direção de ator, aliada ao talento individual, se espelha na performance de todos que apareceram no capítulo. Além de Cauã, o dono da história, todo mundo jogou um partidão. Ana Beatriz Nogueira (Elenice) e Genézio de Barros (José Renato), pais de Renato, Inez Viana (Avany), a moça do abrigo, Juan Paiva (Ravi), que na segunda cena dele aos 18 anos, a gente notou que é um garoto especial. E isso é só a ponta do iceberg, porque vem muito mais gente e trama por aí.

Novela boa é a que deixa você ansioso para o dia seguinte. Minha filha de 6 anos, aprendiz de noveleira, já entendeu isso. Ao final de cada capítulo de sua novelinha infantil, ela diz: "Terminou com gancho, né, mamãe?". É, filha, terminou sim. E Lícia Manzo sabe bem como fisgar o público. Foi assim com as suas novelas "A vida da gente" e "Sete Vidas". Pelo que a gente viu hoje, será também com "Um Lugar ao Sol".