Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Com a 'Casa dos Artistas', experimentamos e pegamos o gosto pela espiadinha
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Abelardo Barbosa, o grande Chacrinha, dizia que na "TV nada se cria, tudo se copia". Mas há 20 anos, Silvio Santos deu um novo sentido a essa máxima com a "Casa dos Artistas". O formato desse reality show já existia no mundo, tanto que três meses depois, a TV Globo estreou o "Big Brother Brasil". Mas o Dono do Baú deu uma outra cara ao programa. Regras criadas da noite para o dia, informações do mundo exterior, até mesmo sua entrada no confinamento, deram à atração um certo grau de ineditismo.
Para o grande público, na verdade, era mesmo a primeira vez que se via algo do tipo na televisão. Lembro bem que naquele domingo da estreia, cheguei a pegar o finalzinho do programa e fiquei totalmente confusa: "o que Supla, Alexandre Frota, Núbia Óliiver, Nana Gouveia, Mari Alexandre, Alessandra Scatena, Taiguara Nazareth, Marco Mastronelli, Leandro Lehart, Matheus Carrieri, Patricia Coelho e Bárbara Paz (as duas, até então, desconhecidas para mim) estão fazendo juntos em uma casa? O que que é isso?"
No dia seguinte, ao chegar à redação do jornal onde eu trabalhava, liguei para a assessoria do SBT para entender o que eles tinha colocado no ar na noite anterior. Qual não foi minha surpresa ao ouvir da assessora: 'Olha, não tenho a mínima ideia. Estou apurando aqui e, mais tarde, a gente conversa'. Nesse momento, tive ainda mais certeza de que Silvio Santos é gênio: para assegurar que nada vazasse, não comunicou nem mesmo a assessoria de comunicação da própria emissora, que estava tão perdida quanto o público.
E durante sete semanas, a "Casa dos Artistas" foi uma febre nacional. As pessoas não queriam perder um só episódio. Virou conversa em mesa de bar, no salão, nas rodas de amigos. A gente queria ver o comportamento daqueles artistas em um confinamento. Fato é que não foram só eles os afetados pela experiência, mas nós também. O nosso lado voyeur foi despertado com toda a força, já que diariamente não tirávamos os olhos daquelas pessoas. E, como em uma trama, começamos a desenhar os vilões, os mocinhos, os camaradas e, claro, o casal. Nesse quesito, Supla e Bárbara Paz eram imbatíveis. Ao som de "I Say a Little Prayer", na voz de Aretha Franklin, os dois viraram os namoradinhos do Brasil, com grande torcida para continuarem o romance aqui fora.
O reality show foi um sucesso retumbante. Isso ninguém tira de Silvio Santos. E aqui não estou fazendo juízo de valor, não estou entrando no mérito de o SBT ter sido acusado de plágio, na época, por ter, segundo a alegação, se apropriado de um formato já existente, sem pagar os direitos por ele. Apenas pontuo o olhar sagaz do comunicador, que apostou em algo inédito e deixou a gente viciado no programa, ainda lembrado, após 20 anos, com alegria, tanto por seus ex participantes quanto pelo público.
Acredito que a "Casa dos Artistas" tenha ajudado a criar e a expandir a parcela da população fã de realities, principalmente, os de confinamento. O início da famosa espiadinha começou aí. Agora, duas décadas depois de o formato ter se estabelecido na TV brasileira, a gente entra e se sente a vontade a olhar o dia a dia daqueles confinados, que também não se importam em serem observados.
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