M. M. Izidoro

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Opinião

O PodPah e a Nova Era da Mídia Brasileira

Recentemente, dois amigos de Osasco e outro de Belém do Pará anunciaram algo que parece absurdo: vão transformar seu podcast em uma TV digital completa. Mas não é só mais um estúdio bonitinho não. Estamos falando de R$ 9 milhões investidos em 6.500 metros quadrados, sete estúdios, uma gravadora (PodPah Records), um canal de e-sports (MadHouse TV) e até um programa de auditório com plateia de senhoras acima de 60 anos.

Sim, você leu certo. Em pleno 2025, quando todo mundo acha que sabe como a internet funciona, o PodPah vai lançar o Programa do Brino - apresentado pelo streamer Brino - com uma plateia composta exclusivamente por mulheres da melhor idade. É tipo juntar o Silvio Santos com a geração Z. E não sei vocês, mas eu já quero ver isso.

O que começou em 2020 como um "bate-papo com convidados" entre Igão e Mítico se transformou no que Victor Assis, o CEO, chama de "cultura de quebrada com potência de TV e linguagem de internet". E olha que não é exagero. A nova sede, que deve inaugurar em setembro, quando o canal completa cinco anos, vai abrigar desde o podcast original até o selo musical PodPah Records - com dois estúdios de gravação completos e um exclusivo para videoclipes.

Tem também a MadHouse TV, parceria com a FURIA de e-sports, que já transmite a Kings League Brasil com Neymar e tá fazendo até o Prime Video correr atrás de parceria. Sem contar o Rango Brabo, Quebrada F.C., Batalha da Aldeia e outros programas que já fazem a galera se amarrar.

Mas sabe o que mais me impressiona? É que isso não é um caso isolado.

A CazéTV, do Casimiro, quebrou todos os recordes possíveis transmitindo a Copa do Mundo de Clubes com 5 bilhões de visualizações. O Flow, de Igor Coelho, cresceu 50% em faturamento e está com canal em TVs conectadas. A NSports virou referência em streaming esportivo. Todos eles nasceram da internet, cresceram sem pedir licença e hoje fazem as emissoras tradicionais correrem atrás.

Não é só uma mudança de números. É uma mudança de mundo.

O que o PodPah e essa galera toda provam é que a fórmula do sucesso mudou. Não é mais sobre ter a maior estrutura ou os melhores contatos. É sobre autenticidade. É sobre criar comunidade de verdade. É sobre três meninos da periferia que saíram de uma sala pequena em Osasco para um complexo de 6.500m² porque nunca perderam o jeito.

E quando você vê que dentro desse complexo vai ter uma galeria de arte urbana, uma miniquadra de basquete, 150 estações de trabalho e espaço para eventos - tudo mantendo a essência de quebrada - você entende que eles sacaram algo que as grandes corporações demoraram pra pegar: o público não quer só consumir conteúdo. Quer pertencer a algo de verdade.

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A meta do PodPah? Ultrapassar R$ 100 milhões de faturamento em 2026. Mas a real conquista é outra: provaram que dá pra criar um império da comunicação sem perder a alma.

Eu sou muito fã de mídia tradicional como TV Aberta e rádio. Mas é inegável que esses canais fizeram em pouco tempo de vida levou algumas décadas para alguns dos canais tradicionais e o mais legal para mim, é um movimento que acontece em lugares e com pessoas que nunca tiveram chance de fazer coisas como essas. A maioria deles começaram por que eles queriam fazer do que jeito que desse.

Eles não esperam marcas virem bancar ou investimento chegar, mas eles tinham os amigos e as ferramentas tecnológicas que estavam ali em volta, pela primeira vez na história. Não precisava ser a melhor câmera ou o melhor microfone, mas com certeza eles estavam fazendo o melhor conteúdo para uma galera que nunca tinha se visto ou ouvido assim de maneira tão autêntica. E isso que fez não só a audiência, mas as marcas e investidores virem correndo pra eles.

É como diria o aquele filme do Kevin Costner, "construa e eles virão".

Esse é um movimento que está mudando para sempre como consumimos e produzimos entretenimento e cultura no Brasil. Para se ter uma ideia, em 2024, pela primeira vez, o investimento em mídia digital superou a TV aberta. Não é só uma mudança de números, é uma mudança de centro de poder.

E quando o Programa do Brino estrear com aquelas senhoras na plateia arrasando mais que muito influencer novinho por aí, vai ficar claro que essa revolução da mídia brasileira não segue manual nenhum.

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Ela cria o próprio.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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