Ameaça a enteado na Fazenda: madrasta tem de ter senso de responsabilidade

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Uma moça chamada Carol disse em um reality show popular na TV que ameaçou cortar o genital do enteado com uma tesoura para que ele a obedecesse. Ela não ia fazer isso, o tom deixa claro. A ideia era amedrontá-lo. Funcionou: até eu que não tenho genital masculino fiquei com medo do jeito dela debochar de algo tão sério. O pessoal do reality reagiu diferente. Todo mundo riu e achou divertido o "truque disciplinador". Banalização da violência da melhor qualidade.
É claro que não é fácil participar direta ou indiretamente da educação de "filho dos outros". Ser madrasta, sei bem, é uma bucha. A Disney não ajudou muito ao criar tantas vilãs nos filmes do começo do século passado. Mães imaculadas se vão e dão lugar às belas e vis madrastas, mulheres que fazem de tudo para acabar com a vida das enteadas. A fama ficou. A tradução em português facilita um trocadilho nada simpático: "má-drasta". Tem alguém que trate bem os enteados nesse contexto?
Bem, Branca de Neve, a versão que conhecemos, tem quase 100 anos. Já existe há muito tempo a noção de que madrastas vêm para somar. Por mais exista o reforço coletivo de "a namorada do papai" não pode ser coisa boa, há mulheres civilizadas que entendem a presença feminina não como uma rival, mas como alguém a ser acolhida e fazer parte da família. Mãe e madrastas podem, sim, seguirem juntas, pelo bem das crianças.
É difícil para absolutamente todos os envolvidos: a mãe, que vê o tempo da criança dividido com outra figura materna e pode se enciumar; o pai, que se for legal como deveria ser, equilibra os egos na tentativa de fazer todo mundo feliz; a criança, que não pediu por nada disso e se sente na obrigação de se afeiçoar a uma nova presença; e a madrasta, que não encontra em literatura alguma as regras para fazer um bom trabalho.
Embora seja complicado se apaixonar pelo cara com filhos e, junto, pegar o pacote completo — crianças com outros valores, educadas por outra pessoa —, é fundamental ter um senso de responsabilidade aflorado com menores de idade. Ok, não queria ter filhos, mas está em um relacionamento com alguém que é pai? Sinto muito, é dever social participar de maneira positiva da educação da pessoinha. Não precisa levar ao Masp para apresentar um Renoir original se não quiser, mas o básico do Estatuto da Criança e do Adolescente precisa cumprir.
Na lista óbvia, mas não tão óbvia, pelo que se vê em A Fazenda, está não ameaçar. Eu sei, eu sei. Mas tem gente que não sabe e acha graça de uma mulher que faz piada com a ameaça de mutilação à criança. Que horror. Está na dúvida? Leia o ECA.
Ana Carolina Oliveira, que perdeu a filha Isabella Nardoni assassinada pelo pai e pela madrasta, hoje é vereadora. Ela se revoltou com a cena do reality e pede mobilização dos órgãos responsáveis. Não se pode fazer isso em casa, nem dar esse tipo de exemplo em rede nacional. Quem faz piadinha em confinamento pode alcançar e validar quem está a um passo de perder a cabeça de verdade e violentar menores.
Entrou na dança e vai casar com quem tem filhos? Segura sua onda, respira dez vezes (talvez muito mais) e mantenha em mente que somos, como sociedade, responsáveis pelo futuro de todas as crianças — isso inclui os filhos da ex de seu atual. Depois eles crescem e, se der tudo certo, você ainda ganha parceiros e gratidão. Olhar o enteado com menos egoísmo, especialmente quando são pequenos, é o mínimo que pode ser feito. O resto a gente vai entendendo vivendo (pelo menos enquanto não escrevem o tal manual).
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