Com o fim de 'Vale Tudo', um tema se torna urgente: a ressaca novelária

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Você já viveu drama semelhante: fecha a quarta capa de um livro que te apartou da realidade por semanas. Que tristeza. O livro não era ruim, muito pelo contrário. Você está é com saudades. O que fazer agora? Como se separar daqueles personagens? Como deixar de frequentar os espaços públicos em que aqueles seres imaginários habitam? Como entender na marra que não, você não é amigo do autor de verdade?
Bem, o tema é popular em rodas intelectuais que discutem o drama. Complicado mesmo, meus inteligentes de estimação. Mas pouca gente fala sobre um tema urgente nessa sexta-feira. E a ressaca novelária?
Pois "Vale Tudo" se encerra com solução de mistérios muito menos importantes que esse. Ok, assassino de Odete, senta lá na cadeia. O que a gente quer saber é o que vai ser da segunda-feira, a partir das 20h45, quando o grupo de WhatsApp dos meus amigos voltar a discutir a efemeridade da educação dos filhos, das fofocas de trabalho, de que bar vamos quinta à noite. É isso que atormenta o brasileiro. Como vou voltar para aquela vidinha que eu tinha antes de conhecer a Maria de Fátima?
Você sabe, como com os livros, não é de um dia para o outro que a gente se apega em Dira Paes e Sophie Charlotte, personagens da nova novela, da qual ninguém ainda decorou o nome. O Murilo Benício é divertido e tal, deve ser um ótimo vilão, mas todo mundo continua com o medroso do César, de Cauã Reymond, na cabeça.
Não é rápido que a gente muda de turma. Não é de um dia para o outro que a gente larga um emprego sólido na Tomorrow para se aventurar em uma empresa que falsifica remédio. Fazemos o quê com nossos looks monocromáticos? É viável passar as noites sem ver a vista da Guanabara que só a diretoria da TCA tem acesso todos os dias? E o Marco Aurélio e seu brochinho de joaninha no terno? Que figurinista vai conseguir superar tanto carisma?
A conversa me lembra a longínqua década passada em que, por tramas do ofício, tive que engolir a ressaca novelária como quem digere duas ampolas de Eparema. Saí da Carminha de Adriana Esteves (Avenida Brasil) em uma sexta-feira para emendar na Pereirão de Lilia Cabral (Fina Estampa) logo na segunda. Nem o mordomo de Marcelo Serrado resolveu o problema, mas como sou remunerada para isso, não podia reclamar muito. Foi difícil aquele 2013.
Meu amigo Rodrigo Casarin, especialista em toda sorte de ressaca, mas mais ainda em literatura, falou sobre isso recentemente: "É necessário emendar uma leitura na outra como abríssemos uma nova latinha antes de o copo esvaziar? (Assumo logo: minha vida é feita de emendar leituras e abrir novas latinhas antes de o copo esvaziar)", ele perguntou em sua newsletter.
Não tem necessidade de começar um livro na noite que terminou o anterior. Nem ver duas novelas na sequência, se meu coração ainda torce pelo sucesso do podcast do Olavo (Ricardo Teodoro) entrevistando o Bebeto.
Espero que meus amigos no Whatsapp tragam fofocas edificantes para as próximas noites não serem entediantes. Ou periga eu acabar caindo nas graças de Grazi Massafera. Ou até abrindo um livro. Nunca se sabe.
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