Ana Paula Araújo está certa: violentador quase nunca parece um monstro

Ler resumo da notícia
Homem que violenta mulher não costuma ter cara de gangster de filme de ação. Não tem muitas cicatrizes no rosto nem anda armado (se bem que às vezes anda e é pior). Mas geralmente é um cara comum, sem sinais de que vai virar sua vida de ponta-cabeça —num sentido muito ruim.
É isso que Ana Paulo Araújo, âncora do Bom Dia Brasil, citou em entrevista sobre seu novo livro "Agressão: A Escalada da Violência Doméstica no Brasil" (Globo Livros). "O que eu gostaria de destacar é que esses homens que praticam violência de gênero não são monstros, são homens comuns. O homem que agride mulher está no nosso ambiente de trabalho, a gente convive e não faz ideia do que ele faz com a namorada ou com a esposa. É o homem que se sente autorizado a exercer sua violência sobre a mulher, sobre as decisões", ela diz.
E esse cara disfarçado de gente boa, querido pelos amigos, confunde a mulher agredida. Como se dar conta que por trás de tanto disfarce tem algo errado? E mais: quando é física a agressão, apesar de doloridíssima, é facilmente identificável. Mas tem fragmentos de violência escondido em controle, em diminuir a parceira e muitas outras atitudes.
Tem uma cena tocante na novela "Vale Tudo". Lucimar (Ingrid Gaigher) vive lutando pelos seus direitos de ter uma pensão para o filho, Jorginho. O pai do menino (Vasco, de Thiago Martins), além de cometer um crime ao não pagar, faz vídeos nas redes sociais para detonar a ex. Violento. E gasta todo o dinheiro apostando em jogo na internet. Um desastre.
Mas Lucimar e Vasco relembram que tiveram um começo doce. Havia romance. Em um flashback do começo de tudo exibido na novela dá para ver porque ela se envolveu com o porteiro. O rapaz definitivamente não vinha com um cartaz de que não pagaria pensão no futuro. Ninguém vem.
O abusador, infelizmente, não é um monstro com três olhos e língua bipartida. Costuma ser um cara bonito, com pegada, charmoso, interessante. E, perspicaz, vai na presa certa: aquela garota inteligente, que poderia ter a vida que quisesse, mas está fragilizada e vulnerável. A rede que se forma dessa combinação é difícil de sair. A dica para reconhecer a arapuca: o cara parece bom, mas quando é contrariado ficar violento? Perigo. Não dá para ser legal só quando tudo acontece como se quer.
"Muitos homens não percebem que o que eles fazem é violência como, por exemplo, querer controlar o método anticoncepcional da mulher. O homem não pode interferir nessa decisão, porque isso é questão de autonomia da mulher. A nova geração que deveria ser mais esclarecida está repetindo padrão machista de outras gerações", alerta Ana Paula.
Temos uma responsabilidade imensa na criação das próximas gerações e devemos falar disso à exaustão. Não queremos que o próximo cara gente boa que se mostra violento entre quatro paredes tenha sido educado por nós, certo?
Você pode discordar de mim no Instagram.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.