Luciana Bugni

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Opinião

Que bebê reborn, que nada: a febre do ano é pintar cachorrinho fazendo ioga

"Pede para ele trazer o livro? Eles estão viciados aqui", diz uma amiga na véspera do dia em que meu filho vai dormir em sua casa. "Eles" são seus filhos pequenos. "O livro", causa do vício, é um exemplar de Bobbie Goods, a febre do momento.

Você já deve ter ouvido falar por aí: são páginas e mais páginas de bichinhos fofinhos vendendo muffins em coffee shops, fazendo ioga no parque, arrumando a cozinha, tomando um chazinho. Quero.

"Mãe, isso parece muito com você", diz o meu menino, com 8 anos de idade, colocando o desenho em branco na minha frente. Um urso (cachorro?), está enrolado em uma cobertinha, em um sofá aconchegante, mexendo no celular. Ao seu lado, um livro aberto com a página marcada. À frente, um chá fumegante de camomila (o Boobie é meu, coloco o Good que eu quiser na xícara). Um notebook conectado na tomada —eu que não ia querer um computador sem bateria. Plantas. Que delícia de cena, eu penso, já querendo colorir cada orelhinha do bichinho (será que é um gato?).

E porque eu estou falando no diminutivo? Bobbie Goods está acabando com minha fama de bad.

Influencers entraram no jogo. Liz Macedo diz que é bom para desconectar. Ok, ela tem 15 anos, é realmente bom que desconecte. Bruna Biancardi também está na onda. Até a Virginia fez dois tracinhos a menos de story um dia desses porque se distraiu offline. Que bênção. Os ursos (seriam ratos?) são bons para todo mundo, até para quem a segue, que vê menos bobagem.

Livros Bobbie Goods retratam animais em cenas do cotidiano
Livros Bobbie Goods retratam animais em cenas do cotidiano Imagem: Reprodução/ Amazon (Luiza Alvarenga)

O psicólogo Jonathan Haidt esteve no Brasil recentemente e fez uma multidão de mães e pais botarem a mão na consciência sobre o uso de telas. Ele, que escreveu o alarmista "Geração Ansiosa", gostaria de não ter liberado o uso do celular para os filhos, na pandemia. E liberou pouco. Mas diz também que esse é um trabalho conjunto, como sociedade.

Aqui, quando saímos para restaurantes ou bares adultos, temos um arsenal de brincadeiras na manga para que as crianças se distraiam. Área kids ajuda bastante. A Mãe Boêmia, influencer carioca que apresenta os bares que são amigáveis para pais e crianças, vive dando dicas de lugares e do que fazer. Mas já afirmou em seus posts: quando o primeiro pai libera o celular, fica mais complicado segurar a turma. Claro: como a gente oferece qualquer coisa que possa competir com a magia das caixinhas que emitem luz, som e dopamina?

Com filhotes (capivaras?) de colorir. E canetas coloridas. E uma ligeira competição das crianças de quanto estão pintando por dia. 'Mãe, pintar e tocar piano me acalmam", diz o meu. Bem, um dos hobbies não exige talento algum. Ponto para os... gente, eu não sei que bicho é esse, eles estão comendo fondue de capuz.

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Ok, mas para tirar as telas de jogo para os menores, devemos também "desviciar-nos" delas um pouquinho. E aí posso pintar ursos (coelhos?) fazendo ioga. Ou, se parecer muito bobo, migrar para drogas mais pesadas —já ouviu falar no "Suruba para colorir", da Bebel Books, que está em sua quarta edição cheia de desenhos safados em preto e branco para pintar?

Canetinhas na mão, celular virado para baixo e uma tacinha de vinho podem compor o desestressamento de adultos. Se levarmos as crianças junto, ponto para os bichinhos fofos. Seja lá qual forem eles.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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