'Estou sempre errado': a frase de Afonso Roitman é bordão das suas brigas?

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Solange (Alice Wegman) está deitada em uma cama, em uma ressaca que eu não gostaria de experimentar hoje. Abre os olhos: quem vem é o namorado (ex?) pedindo para que eles se acertem para sempre. O rosto dela se ilumina: todas as doses do dia anterior foram em vão? Quando o "felizes para sempre" se descortina, bomba: tem um cara ali no quarto, dormindo em uma poltrona. Vixe.
"Sossegue, Carlos, o amor é isso que você está vendo", diz um poema de Drummond em que ele conversa consigo mesmo. "Hoje beija, amanhã não beija. Depois de amanhã é domingo, e segunda-feira ninguém sabe o que será". Os versos atendem pelo catastrófico nome de "Não Se Mate". É como se, estrofe após estrofe, o poeta se convencesse de que, apesar das dores de amor serem terrivelmente incapacitantes, o suicídio não é a melhor opção.
Afonso (Humberto Carrão) não é exatamente o homem para se amar quando quer calmaria. Inseguro por ter crescido em um lar desprovido de afeto da mãe —tudo que Odete Roitman pôde oferecer foi ausência materna— ele descarrega a própria confusão em cima de Solange.

Ciúme, cobrança e brigas constantes em cima da característica principal dela, que é priorizar o trabalho. O rapaz não gosta do jeito da namorada (ex?) e tenta mudá-la o tempo todo para se entender como protagonista de sua vida. Ela responde da mesma maneira. Ao ser criticada e cobrada o tempo todo, também tenta fazer o mesmo. O relacionamento fica todo truncado. E culmina em traição dupla: ela fora do Brasil, ele dentro da casa dela, praticamente, com a amiga que morava ali.
Solange gosta de Afonso. Mas gosta da vida que escolheu para si também. E isso é uma confusão comum das paixões —será que a gente consegue se moldar à expectativa do outro para fazer a história de amor vingar? Alanis Morisette tem uma música que traduz os amores que querem que sejamos outra coisa para aí, sim, nos tornarmos merecedores do afeto. "Nós te amaremos do jeitinho que você é, se você for perfeito". Eu acho meio dolorido porque perfeição é subjetiva.
Afonso gosta de Solange. Gosta de parte de Solange? Gosta da Solange que ele imaginou que deveria ser a Solange. Gosta das projeções que criou: nelas, a mulher não trabalha tanto, com tantos caras, não divide apartamento com homens, eles não curam a bebedeira dela e não dormem no quarto dela.
Infelizmente para ele, essa moça que ele imaginou não existe. Infelizmente para ela, tentar se transformar no que o outro quer o tempo todo é muito cansativo.
Aí dá no que dá: ele abre a porta para Fátima (Bella Campos), ela supostamente para um cara em Portugal. Na briga, a frase clássica de quem está se esforçando muito para ser outra coisa: "Mas eu estou sempre errado", ele diz, antes de dizer dezenas de erros dela. Ela admite: você é legal, sim. Mas não basta para o amor não ser isso que Carlos estava vendo. É triste.
Se eu pudesse rebater o poeta, diria para não sossegar, não, Carlos. O amor por ser diferente disso que você está vendo. Hoje beija, amanhã também. E depois de amanhã acorda tranquilo, com a certeza de não estar aquém do desejo do outro. A gente merece a sorte de um amor tranquilo, sim.
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