Luciana Bugni

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Opinião

Marketing ou não, divórcio de Virginia põe amor de rede social em xeque

Você, que nunca tinha ouvido falar em Virginia até a semana passada, talvez esteja até apostando no tigrinho (não é recomendado) depois da overdose de conteúdo do vexame institucional ocorrido na CPI das Bets. Se não isso, sabe muito bem qual a referência de copos Stanley cor de rosa. Ao vestir moletom para eventos que exigem mais formalidade, pode postar nos stories que está "meio Virginia". Pois bem.

O Congresso se dividiu entre poucos seres humanos com bom senso e outros fãs de influencers que colocam Jesus como desculpa para fazer o que bem entendem. Tudo isso colocou o nome da garota em evidência, mas representou prejuízo em números —Virginia perdeu 600 mil seguidores com a patacoada. Pois bem outra vez.

Na noite de terça-feira, um choque nas redes sociais: Virginia anunciou que vai se divorciar do marido, Zé Felipe. Depois garantiram nos stories que não é marketing —a dúvida era se o cantor lançaria alguma música e ela algum produto de Dia dos Namorados. Choraram durante a noite, eles dizem, e vão ressignificar a relação. Saem beijos na boca e sexo e fica a amizade e o respeito de quem tem crianças para educar pelo resto da vida. Ok, se for verdade, e faz sentido que seja, está corretíssima a abordagem.

Muita gente vive com inveja de casais que vivem a vida luxuosa deles nas redes sociais. Viagens, festas, compromissos profissionais a dois. E compras, comidas, roupas e a aura alegre de quem contrata alguém para pagar os boletos e não se preocupa com códigos de barra faz um tempão.

"Queria um marido que me olhasse como Zé Felipe olha a Virginia na CPI", disse alguém na internet sobre a presença do cantor na primeira fila da comissão. O casamento, segundo eles, já vinha acabando ali. E seria melhor decretar o fim da relação romântica agora do que esperar a fase da raiva para colocar um fim público —tem criança na jogada, relações assim nunca terminam e quem sofre são os filhos.

"Não faz sentido que seja um divórcio, eles postaram story ontem!", disseram alguns. Mas, gente, já estamos usando rede social há 20 anos e vocês ainda não entenderam que lá nós fingimos que está tudo bem? Amores acabam mais lentamente que stories, mas acabam também. Ou viram outra coisa. Mesmo que a gente poste que não.

Virginia aparece ao lado do marido/ex para afirmar que, sim, é verdade. A relação virou outra coisa. "Como ninguém percebeu nada?", diz a internet em choque, atrasadíssima em descobrir que é muito fácil ser manipulado pelo discurso de influencers. É esse, aliás, o jogo. Você consome porque parece perfeito e eles fazem parecer perfeito para que você consuma. E mais importante: não está em contrato nenhum que eles realmente precisam dizer como é a vida de verdade quando a câmera frontal do iPhone 16 para de gravar.

Aliás, meio difícil ter um tempo a dois se o número de tracinhos dos stories deixa claro que a câmera nunca para de gravar.

Em vez de seguir a moça de volta para entender se é marketing ou não —quem se importa?—, não seria mais inteligente olhar para a sua própria vida atrás do celular que você empunha?

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Menos inveja da vida dos outros, menos ilusão de que o circo montado em vídeos curtos na vertical são a verdade absoluta e mais olho no olho. Tudo isso é bem melhor que o mundo fantasioso de filtros da influência. Só não vê quem está muito ocupado no follow/unfollow.

Você pode discordar de mim no Instagram, mas melhor mesmo conversar com quem está aí do seu lado.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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