'As Quatro Estações do Ano': por que amigo vale mais que relação amorosa

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São três casais. Eles são amigos desde a faculdade e, agora, por volta dos 50, vivem suas vidas de adultos —o que, sem querer frustrar os mais jovens, pode ser meio chato. Mas na série "As Quatro Estações da Ano" (The Fours Seasons, no original), o elenco tempera o tédio com encontros frequentes a cada estação do ano. Quem sabe o conforto de poder ser exatamente aquilo que se é na frente dos amigos de longuíssima data sabe de que estou falando.
Tina Fey é Kate, uma das protagonistas, uma mulher casada há 25 anos com um dos amigos (Will Forte) e parece viver a exceção dos casamentos de meia-idade. Ela até transa. Outro casal, Danny e Claude (Colam Domingo e Marco Calvani) vivem aquela complicada dualidade em que um gruda demais e o outro quer um espacinho para viver do jeito que quer, ainda que não seja o jeito recomendado pela OMS. E há ainda Nick e Anne (Steve Carell e Kerri Kenney Silver) que vivem o último suspiro do relacionamento longevo, quando o cara quer esquiar nas montanhas e a mulher está jogando alguma coisa com uma fazendinha no iPad. Triste.
Tem todo tipo de relação ali entre os casais, mas a riqueza são as relações entre os amigos. A intimidade é tão grande que qualquer escorregada que seria considerada desvio de caráter é compreendida. Eles têm uma lei máxima na sinceridade. Posso dizer para um amigo que acho o parceiro dele insuportável? Ali, eles podem. E esse amigo pode dizer com todas as letras que esse tipo de sinceridade é desrespeitosa e não será aceita. O pedido de desculpas de vem depois é uma aula.
A comunicação não-violenta, método criado pelo psicólogo Marshall Rosenberg, foca a resolução pacífica de conflitos e a construção de relacionamentos mais saudáveis. Sabe aquele nosso jeitinho de berrar para ser ouvido em casa? Então, não pode. O ideal é falar claramente, sem rodeios, mas de forma respeitosa e cuidadosa com os sentimentos do interlocutor. "Eu não gostei de ter que tirar as compras do carro sozinha porque você estava no celular", disse uma das personagens. "Desculpe, vou prestar mais atenção na próxima vez", é a resposta. Nossa, que coisa bonita.
Lógico que não adianta comunicar não violentamente se o plano é violentar a mulher de novo largando as compras na mão dela toda volta de mercado. Mas quando você para e verdadeiramente escuta o que o outro tem a dizer sobre você, pode aprender um pouco mais de si mesmo. Por mais contraditório que seja sob o ponto de vista do idioma, o autoconhecimento pode, sim, ser um presentinho deixado nas palavras de quem muito te conhece.
Óbvio, não é essa a única solução para salvar relações moribundas. Mas dialogar com honestidade é o único caminho possível para consertar decepções alheias. E é uma via dupla —a gente fala um pouquinho, escuta um pouquinho e aí percorre mais 520 km na estrada das relações saudáveis.
Chegar à meia-idade tem muita insegurança e desvantagens do ponto de vista do colágeno. Mas um trunfo inegável é chegar ali já sabendo em quem dá para confiar de verdade. São aqueles que seguram sua onda quando você quebra há décadas e que vão segurar até o fim. Amigos, no contexto da série e da vida, são tão (ou mais) importantes que as parcerias amorosas. Sorte de quem pode dialogar com honestidade com eles e poderá para sempre.
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