Luciana Bugni

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Opinião

Raquel e Maria de Fátima: por que é difícil reconhecer erros dos filhos?

Sua filha vendeu sua casa sem te comunicar após a morte de seu pai. Você descobre que perdeu as três coisas num breve espaço de tempo: pai, casa e filha. Foi assim que Raquel (Tais Araújo) terminou o primeiro capítulo da novela "Vale Tudo". Sem nada.

Contra a morte natural, não há muito o que fazer a não ser se entristecer, viver o luto e partir para frente. Com a perda do imóvel também não há o que fazer já que legalmente estava no nome dela e ela pode fazer o que a consciência autorizar. Mas e a filha?

Maria de Fátima (Bella Campos) está plena, aplicando golpes no Rio de Janeiro. Gastou parte do dinheiro da casa da mãe em roupas de grifes caríssimas e diárias no Copacabana Palace. O celular antigo, ela largou em Foz do Iguaçu, onde vivia com a família. Não parece sentir culpa, nem pensar no que fez. Está realizada e se julga merecedora de tudo que alcançou pisando na própria mãe.

"Ela é muito nova, deve estar influenciada por alguém", diz a mãe, sob os olhares de pesar da amiga que percebe que, apesar de jovem, Maria de Fátima está influenciada por si mesma. Ela sabe o que quer: não ser pobre e viver bem. Conquistar isso é prioritário, custe a felicidade (e os bens) de quem custar. Como uma mãe não percebe que a índole do filho não é lá muito correta?

Claro que percebe que algo não vai bem. Em conversa no dia do aniversário de 23 anos de Fátima, em que a garota parece que está sendo castigada com um bolinho, Raquel saca que não é muito normal sugerir que a mãe tenha um caso com um cara casado por grana. Mas é difícil perceber que o caráter do filho é duvidoso porque essa constatação fala sobre a gente mesmo. Se o filho é tóxico, o fracasso é dos pais. E assumir as falhas não é lá muito fácil, não.

A conversa lembra a série sensação nas conversas atuais: "Adolescência". O diálogo dos pais do garoto no sufocante último episódio dá conta de que foi difícil aceitar o crime cometido pelo menino. Como a gente aceita que aquele que criamos é culpado pelas próprias atitudes? Como controla o ímpeto de proteger e aceita que a vida (ou a Justiça) ensina?

Maria de Fátima não cometeu nenhum crime. Vendeu o que, perante a lei, era dela mesmo. Vai da índole de cada um dormir tranquilinha na cama king do Copacabana Palace enquanto sua mãe fica ao relento sabe-se lá onde. Em vez de tentar reverter a crueldade da garota por vias legais, Raquel prefere acreditar em sua ingenuidade. E corre atrás dela no Rio de Janeiro na intenção de protegê-la de futuras enrascadas. Haja esperança!

A novela ainda tem mais oito meses de Maria de Fátima enrolando o mundo, e Raquel caindo em suas mutretas e se dando mal. Enquanto isso, a gente aqui pensa se realmente sabe quem aqueles a quem tentamos educar estão se tornando debaixo dos nossos narizes, colados no celular. Parece que não estamos indo muito bem.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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