Luciana Bugni

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Opinião

Alanis canta para lembrar de que somos muitas versões de nós e tudo bem

Ela se sente bêbada, mas está sóbria. Ela está "altinha", mas com o pé no chão. Está saudável, mas sobrecarregada. Está perdida, mas esperançosa. Tá cansada, mas tá trabalhando (todo mundo está). Está aqui, mas já partiu faz tempo.

Alanis compôs "Hand in My Pocket" há mais de 30 anos e a música, que abriu o show que ela ontem em São Paulo, segue sendo um hino das várias nós que carregamos nesses bolsos há décadas. Só que se antes a gente era "imatura, mas sábia", hoje demos umas voltinhas por aí e amadurecermos o suficiente para saber que não sabemos grande coisa.

A mesma Alanis que bate o cabelo, andando de lá para cá em um palco com uma calça de couro larguinha e pose de roqueira, enrola o microfone nas mãos em canções acústicas com agudos longos e impressionantes. Uma força da natureza que pode ser a menininha indefesa (depois dos 50 também) quando achar que deve. Dá para ser muitas. Dá para atualizar as próprias letras. Agora, o irônico é conhecer o homem de seus sonhos acompanhado de um belo marido. No universo Alanis contemporânea, a gente não concorre mais umas com as outras.

A gaita ainda conquista. A postura rock'n'roll nos faz acreditar que é possível ser jovem como ela para sempre. Mas a cantora de mais de 50 dá conselhos repaginados. Afirma que devemos nos deixar levar como uma menina de 14 anos faria. Ela sabe do que está falando, ela conhece a gente desde que tínhamos essa idade e imitávamos suas trancinhas.

Uma mesma mulher pode pular e gritar — cuidado, menina, não se enrola nesse fio — e emendar com uma birrinha como "Uninvited" com o piano lento que coloca todo mundo para pensar: o cara é até ok, mas ela precisa de um momentinho para deliberar. Ela ensinou todo mundo a não aceitar qualquer coisa e a gente ouve até hoje com olhos arregalados de quem escuta uma novidade.

"Uma versão mais velha de mim que é pervertida como eu", a letra hit da revanche do chifre de 10 entre 10 garotas dos anos 90, "You Ougtha Know", ganha outro tom na vida adulta. Atualmente, podemos ser nós mesmas essa nova versão (e continuar pervertidas).

Somos a mão no bolso e a mão que arremessa a bituca — e olha que a gente nem fuma mais. Mas agradece o silêncio gritando. "Ninguém percebeu isso ainda (...). Mas tudo vai ficar bem, bem, bem." Uma das mãos no bolso e a outra fazendo o sinal de paz de amor.

Que sorte a de quem tem os ídolos vivos para se reinventar quando é preciso.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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