Como em 'The White Lotus', muita mulher já esteve em trio de amigas tóxicas

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"The White Lotus" é uma série idealizada para expor personagens que tiram a gente do sério. Está tudo ali: a ricaça viciada em comprimidos, o milionário corrupto preocupado com o próprio império, o playboyzinho sem escrúpulos que ferra todo mundo e se dá bem. Se a ideia é passar nervoso, há um prato cheio semanal via streaming na Max.
Nesse pacotão de irritação garantida ou seu dinheiro de volta, os roteiristas encaixaram três mulheres ricas e loiras que dizem ser um trio de amigas de infância. Juntas, é risadinha e abracinho. Quando elas se separam em duplas, o esporte favorito é falar mal da terceira. Assustador de ver na tela, comum na vida real.
Jaclyn (Michelle Monaghan) é atriz em Los Angeles, Laurie (Carrie Coon) é advogada divorciada em NY e Kate (Leslie Bibb), uma advogada texana. Além de achar um ou outro cara bonitinho, elas amadureceram com pouco em comum. E driblam isso em uma viagem longa criticando uma das três com a outra das três.
Pode ser uma incompatibilidade a respeito de procedimentos estéticos na face. Quando a menos adepta à prática sai de cena, as outras duas criticam sua aparência. Pode ser o jeito de levar o relacionamento. Se uma fala demais do marido, as outras duas metem o pau pelas costas. Ou pode ser uma disparidade política. Se uma votou no Trump... bem, aí estão certas de criticar mesmo. Tem coisa que pode, tem coisa que não pode.
O veneno destilado ali faz lembrar uma disputa adolescente que reivindica o papel de melhor amiga. A expressão está em desuso em tempos em que até a monogamia está na berlinda. Precisar ter uma MELHOR amiga? Sabemos até que as uniões matrimoniais não podem ter a carga de ser o melhor em tudo. Ver filme, criar filho, escolher sabor de pizza, andar de mão dada, transar... como acumular tantas funções em um par só?
O mesmo vale para o posto de best friend. Dá para conversar de cirurgia plástica com uma e falar mal do Trump com outra. As três moças no hotel The White Lotus elevam a competição feminina aos mais altos patamares da falsidade. Nos diálogos fúteis das três a gente tem a impressão que o papel de uma na vida da outra é apenas fazer com que alguém se sinta superior. Se eu coloco lupa nos seus supostos defeitos, estou livre para me sentir o máximo e não preciso olhar os meus. Hedonismo nota 10, autoconhecimento nota zero.
Cabem muitas melhores amigas na vida da minha melhor amiga. E eu amo elas todas porque minha amiga também ama. Entretanto, caso aconteça de alguém ousar vir falar mal dela para mim, eu viro bicho na defesa. Mas ninguém ousa. Ela é ótima mesmo e jamais votaria no Trump.
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