Representado por macaco em filme, Robbie Williams queria ser amado. E você?

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Foi o diretor Michael Gracey que lançou a pergunta: como Robbie Williams, astro pop britânico, se via? Ele respondeu imediatamente que como um macaco. Alguém ali, inserido e capaz de imitar os humanos, mas bem diferente deles. O desencaixe eterno de uma alma que não se sente exatamente pertencente em lugar algum.
Michael abraçou a informação e ousou. Colocou um macaco de efeitos especiais no papel do protagonista da cinebiografia "Better Man", que conta a trajetória do cantor desde os tempos de Take That —aquela boy band, lembra? O insight rendeu uma indicação ao Oscar de melhor efeitos especiais. Se no poster do filme e no trailer o visual símio parece incômodo, no desenrolar do filme vira característica secundária de uma história repleta de nuances psicológicas que vestem muita gente. Até aqueles que se olham no espelho e se veem como humanos mesmo.
Robbie perseguiu o sucesso a juventude toda influenciado pela vontade de brilhar. "É hora do show", ele aprendeu com o pai. E conseguiu direitinho contornar a possibilidade do fracasso com humor e ausência de medo, um dos segredos para o triunfo em qualquer área.

Mas essa obstinação pelo sucesso custou caro. Aprovado como um dos integrantes do Take That aos 15 anos, nos anos 1990, ele ficou muito conhecido. Era adorado pelas fãs que se amontoavam na calçada de sua mãe no interior do Reino Unido. Mas queria mais. Mais dinheiro. Mais fama. Queria ser o vocalista principal e cantar as canções que ele mesmo escreveu. Essa determinação rendeu o oposto e foi expulso da banda.
Há um diálogo no filme que explica essa busca. Ele diz que as pessoas falam muito sobre fazer o que amam, mas não é isso que é importante. O importante é ser amado. Quando você é amado por todos, conquista tudo, segundo essa linha de pensamento. Errado.
O filme não tem grandes surpresas em relação às outras cinebiografias de ídolos pop. Freddie Mercury, Elvis Presley, Johnny Cash e outros já tiveram destino parecido relatado na telona. Parece que conseguir absolutamente tudo que almeja não gera a completude almejada. O contrário: é um vazio tremendo.
Ariana Grande falou disso para a Vogue Itália recentemente. Disse que já se desgastou demais em busca da aprovação alheia. "Tenho o impulso natural de ser amiga de todos, ser compreendida por todos, agradar a todos", ela diz. Bem, parece algo comum aos artistas que vivem de aplauso por definição.
Ela segue: "É difícil para quem trabalha com entretenimento. Minha vida me faz feliz, não entenda mal, mas existe um tipo de contradição. O tipo de pessoa que quer ser artista é o oposto de quem consegue suportar o que acontece quando se torna artista. E aqui estou eu, em estado de recuperação de quem quer agradar a todos".
Dá para entender Ariana e ficar tocado com a saga de Robbie porque, em menor escala, é isso que vivemos todos, desde a adolescência. Ser aprovado pelo grupo, ser popular na escola, mandar bem em pequenos palcos invisíveis no recreio. Na vida adulta, deveria haver esse assentamento que a atriz propõe, mas nem todo mundo entra nessa. As redes sociais e o sistema caça-níquel de amor no cassino da vida não facilitaram para ninguém.

Quantas vezes você checou hoje quem olhou seus stories? Ou quem apertou um coração preto e branco até ele ficar vermelho e você acreditar que é amada? Entre likes e muito fingimento, construímos um caminho parecido sem ter o bônus da fama —aqui falo de paparicos físicos, não só virtuais, e dinheiro para fazer o que bem entender.
Queremos a aprovação coletiva porque um dia alguém nos disse que era importante? Ou porque simplesmente faltou um abraço na infância? O que falta agora? Todo mundo sabe o gosto amargo de ser amado de menos e procura ainda tapar esse buraco com uns likes virtuais ou aplausos de multidões reais. "Eu amo a plateia e eles me amam. E eu os amo porque eles me amam", diz um trecho do musical Chicago. Na peça, duas mulheres cometem crimes e são presas, mas mesmo na cadeia seguem na batalha feroz pela fama.
Ok, artistas precisam disso. A gente, parece, também. O resultado da sede por completar esse copo meio cheio é —surpresa— mais vazio ainda. É certeza de que vamos mesmo pegar esse atalho errado para a felicidade?
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