Fenômeno Shakira: será que as mulheres já não choram, mesmo?

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Na impronunciável "Bzrp Music Sessions, Vol. 53", música que Shakira lançou em 2024, ela afirma que as mulheres já não choram, elas faturam. A cantora colombiana, ídolo no Brasil desde os primórdios dos anos 1990-e-cabelo-preto-alisado-com-chapinha, escreveu a letra para o ex, o então jogador Piqué. A história de traição tomou ainda mais propulsão mundial quando ficou exposta em versos de canção pop, com direito a dancinha irônica.
A prática, infelizmente, não é bem essa. Depois do pé na bunda, as mulheres invariavelmente choram, sim. E faturar não está entre as minhas prioridades a cada desilusão amorosa. Na frente de pensar em lucro, para mim, estão filmes com a Julia Roberts tomando sorvete de dois litros direto no pote, conversas inconformadas com amigos, bares tristes regados a álcool de procedência duvidosa e, claro, música de amor. Isso inclui as da Shakira desde o tempo em que minha própria chapinha esquentava na pia do banheiro (nos livramos dessa e ostentamos cachos hoje, Shaki e eu).
A musa escolheu o Brasil para lançar a turnê mundial de seu disco. Entre as canções, versos que explicam o be-a-bá daqueles amores que se tornam pouco e se acabam. "Não foi culpa minha, tampouco tua, foi culpa da monotonia", ela diz em um clipe em que se apresenta com um buraco de canhão no peito. É bem assim o vazio do fim das histórias, mesmo.
Há tempos, Shaki embala coraçõezinhos abalados com sua antologia: "sobra tanto dentro deste coração, que apesar de dizerem que os anos são sábios, ainda se sente a dor". Ai, passa para cá esse sorvete de flocos.
Se, hoje, ela chacoalha mulheres seguras na pista ao som de "Soltera" ("troquei de amigos porque os que eu tinha só falavam dele/ posso fazer o que eu quiser/ é muito bom ser solteira"), já rodou em disquinhos antigos dizendo que "finalmente encontrou uma razão para raspar as pernas, dançar às sextas e ir à igreja aos domingos" (?). Spoiler: a razão era um homem. A gente amadurece, sim.
"Ninguém vai me dizer como me portar" em 2025, garante aquele mulherão de Barranquilla. Quem sou eu para ter medo de alguma coisa se ela canta, dança e hipnotiza? Música pop resolve males profundos: de tristeza por perder algum traste ao medo do que os outros podem, por ventura, achar. Shaki, versão década de 20 do 21º século, assumindo a loba e levando uma legião de mulheres com ela. Olhando daqui, parece que as mulheres já não choram mesmo. Nostálgicas, sim. Mas valendo por duas de 22 e cientes de que o melhor está por vir. That's the deal, my dear.
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