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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Fila de Lolla sem artista confirmado: quer ver festival ou dizer que foi?

A grade é uma dos lugares mais desejados para acompanhar os shows do Lolla: mas importa quem está tocando? - Rubens Cavallari/Folhapress
A grade é uma dos lugares mais desejados para acompanhar os shows do Lolla: mas importa quem está tocando? Imagem: Rubens Cavallari/Folhapress

Colunista do UOL

22/09/2022 04h00

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Às 23h59 de terça (20), milhares de pessoas estavam de plantão em frente ao computador ao celular esperando abrirem as vendas do festival LollaPaloza, que acontece só em março de 2023. Tradicional evento de música paulistano, costuma ter atrações internacionais da pesada, que se distribuem pelos três dias de shows.

Por isso, meses antes, já começa a especulação sobre quem vai ao festival. O fato é que não há ainda nenhum artista confirmado. O que há é um desejo intenso de ser parte do Lolla, que faz as milhares de pessoas se acotovelarem virtualmente em busca do ingresso para assistir sabe-se lá o quê. Deve ser bom, ué, mas e se não for grande coisa?

Uma conhecida afirmou que à meia-noite e um da quarta (21), exatamente 60 segundos após a abertura das vendas, ela era o número 23.000 e tanto da lista. E, claro, para as duas dezenas de milhares de pessoas que estavam à frente dela, não bastava obter os ingressos pela bagatela de R$ 1,2 mil reais. Era preciso postar. "Se eu vou no Lolla, mas não postar que vou no Lolla, será que configurará que eu fui no Lolla, quando de fato eu for?" — eita.

Se vai, posta antes de ir

O frenesi de postar que foi nos lugares — especialmente em eventos catárticos como grande festas de música que duram três dias — gera aquela ansiedade. Imagina só quando chegar março de 2023 e você, sem ingressos, entediado, terá que lidar com o feed repleto de pessoas postando o que estão (estarão mesmo?) vivendo? E no dia seguinte de novo e no outro dia outra vez?

Recentemente, se viu o mesmo comportamento no Rock In Rio, no Rio de Janeiro, e no Coala Festival, em São Paulo, ambos em setembro. As redes sociais se dividiram entre quem estava lá e quem estava fora de lá procurando ingresso para estar lá. Os dias de evento se passavam enquanto as pessoas ficavam mais angustiadas pelo medo de estarem perdendo algo muito legal — ou de não poderem postar algo de muito legal.

Essa colunista assistiu o show da família Gil no RIR, via Multishow, deitada debaixo das cobertas, ouvindo uma chuvinha que batia na janela, ciente de que havia tomado a decisão certa. No caso do Coala, o overposting da galera bateu diferente: era sábado 23h e eu estava comprando um ingresso do sexto lote, que custava obviamente seis vezes o preço inicial, só para ver a Bethânia cantar. Vi. Funcionou. Até fiz uns stories depois. Sei lá como os deuses castigam quem viver uma experiência dessa sem dividir com os seguidores, né?

O site do Lolla avisa: prepare-se para uma edição histórica. A gente já sabe o que vem por aí. Gente dizendo que foi com a hashtag #eufui, gente com penteados e maquiagem maluca de festival em fotos coloridas, gente postando palco e multidão, gente dizendo que não tem mais idade para ir em festival aos 20 anos (e indo), gente reclamando que a zona sul de São Paulo é longe, gente procurando ingresso para pagar seis vezes mais, gente deprimida porque a vida parece chata quando todo mundo, menos você, está na mesma catarse e gente que vai ver pelo Multishow de boa, tomando um chazinho e postando que fez a escolha certa.

Resta saber em que lugar insalubre das redes sociais você vai querer se colocar nos três dias do fim de março do ano que vem. Se for do lado de dentro do Autódromo de Interlagos, onde acontece o evento, é bom se apressar.

Mas peraí: será que o Pearl Jam vai tocar dessa vez?

Você pode me ver reclamar de outras coisas também no Instagram.