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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro e Ratinho: como Anitta tem incomodado masculinidade do brasileiro

Anitta: quando menos se importa, mais irrita os outros - Reprodução/Instagram
Anitta: quando menos se importa, mais irrita os outros Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

23/11/2021 09h54

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Bolsonaro animou as redes sociais ontem ao citar com deboche uma live de maio de 2020 de Anitta e Gabriela Prioli. No vídeo, Anitta admite não saber muito sobre política e pede a ajuda da amiga. Faz perguntas que podem estar no imaginário de muita gente, mas que nem todo mundo tem coragem de perguntar.

O presidente disse que viu só agora uns trechos e que Anitta faz perguntas absurdas e não sabe nada sobre política. "Depois completa que não é só ela, muita gente é assim. A cantora e Gabriela rebateram confirmando: não ter conhecimento político é uma constante no país mesmo.

Curioso que confessar ignorância sobre qualquer tema incomode tanto o líder do país. Quando não sabemos algo, o único jeito de aprender é perguntar para quem sabe. Anitta fez isso: perguntou para uma advogada, que domina o tema. E aprendeu. "Muita gente que não sabia também deve ter aprendido comigo", ela diz. Deve mesmo.

Assustador mesmo é quando uma pessoa não domina algum tema e se recusa a perguntar.

O presidente é um bom exemplo: refratário, ele se recusa a aprender sobre o que não acredita. Quando diz algum absurdo sobre a pandemia e a mídia rebate dizendo que ele está errado, ele ataca a mídia. Quando ele se opõe à ciência e é repreendido, ele ataca quem acredita na ciência ("acreditar na ciência", escrevo isso com um quê de incredulidade — como seria possível duvidar da ciência?). Quando alguém afirma que seu discurso fere os direitos humanos, ele ataca quem defende os direitos humanos (defender direitos humanos não deveria ser o princípio básico dos humanos?).

Anitta perguntou o que não sabia com uma humildade difícil de se ver por aí. Ainda mais em público. Homens acham mais complicado mostrar a cara e dizer: "não sei nada disso, me explica". Eles estão sempre um passo na frente, tentando explicar para todos a dor, o trabalho, a opinião dos outros. Tem até um nome: chama mansplanning. Para a mulher, é enfadonho escutar.

Ratinho defende os "bons costumes"

Outro que ficou incomodado com a cantora foi Ratinho. O apresentador criticou Anitta quando ela declarou que tinha vontade de fazer sexo com o bailarino que participa do clipe de "Envolver", uma de suas músicas mais recentes. Ela rebateu — a carreira do apresentador não é a mais cuidadosa com moral e bons costumes e seu programa é do estilo "tirem as crianças da sala". "Falou o cara que ganha dinheiro fazendo teste de DNA na TV", ela disse. Bom ponto.

O presidente poderia aprender com Anitta a beleza que há em dizer que não sabe algo e pedir para ser ensinado por quem domina o assunto. Ratinho já deve saber o que a situação do bailarino da cantora ensinou: ser solteiro e fazer o que quer da própria vida, do próprio corpo e dos próprios flertes também é gostoso demais.

Nos comentários abaixo, você provavelmente verá mais homens criticando a cantora. Mulheres também entram na onda e a atacam. É complicado ver alguém sendo um sucesso exatamente por fazer o que quer sem prejudicar ninguém.

Talvez fosse mais importante focar no apoiador do presidente que, no início do vídeo compartilhado nas redes, sugere que Bolsonaro aplique as táticas de Hitler na educação das crianças. O presidente não fica indignado com a pergunta, não. Apenas responde, com ar resignado, que é difícil fazer uma transformação desse porte no Ministério da Educação. Dá a entender que, se fosse possível, ele faria.

Dá para entender agora porque alguém aprendendo sobre política incomoda tanto? Você pode discordar de mim no Instagram.