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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Morte de Cristiana Lôbo: Andréia Sadi lembra importância de declarar amor

Jornalista Cristiana Lôbo morreu nesta quinta (11): tristeza dos colegas - TV Globo/Zé Paulo Cardeal
Jornalista Cristiana Lôbo morreu nesta quinta (11): tristeza dos colegas Imagem: TV Globo/Zé Paulo Cardeal

Colunista do UOL

11/11/2021 10h45

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"Que bom que eu falei o que sentia para ela várias vezes", diz Andréia Sadi, com olhos marejados, ao entrar ao vivo na GloboNews para comentar a morte da colega e amiga Cristiana Lôbo. Sua fala chega como um alerta ao brasileiro consternado com tantas perdas.

Parece que o isolamento trouxe um novo jeito de sentir a tristeza. Sofremos por tantos dias o luto de uma maneira diferente: qualquer morte era como alguém da família pois, em uma pandemia, há um risco latente de que a próxima morte seja realmente de alguém próximo.

Além disso, passamos tanto tempo em casa, com a TV ligada, que estabelecemos conexão com pessoas que nunca conhecemos de verdade. A morte de Cristiana Lôbo traz essa sensação.

O desaparecimento de uma profissional a quem acompanhamos por tantas décadas causa uma tristeza profunda, como se fosse uma amiga.

É um período de tantas desconfianças, que uma jornalista de política com tamanha credibilidade vira nosso porto seguro. E agora?

Colegas emocionados

A cobertura feita pelo programa Conexão GloboNews escancara isso. Emocionados, profissionais se revezaram na tentativa de segurar o choro enquanto contavam situações que viveram com a colega e amiga. Ao lado da tela dividia, imagens de várias épocas da jornalista trabalhando nos estúdios.

Andréia Sadi narra sua última conversa, há cerca de 10 dias, para agradecer um presente enviado por Cris aos seus filhos gêmeos, de oito meses. Ela afirma que a admirava muito, desde que a via comentando política no programa do Jô Soares. E que teve a oportunidade de dizer isso à amiga muitas vezes. A frase vem com uma carga de alívio.

A gente tem dito o que sente para as pessoas? Saturados do contato digital, acabamos perdendo o gás também das relações presenciais mesmo agora que elas voltaram a ser aceitáveis.

É importante pensar nisso para que captar a essência do que disse Sadi enquanto os outros amigos homenageavam a jornalista: dizer o quanto gosta de alguém em vida.

O primeiro post de Anitta após a morte de Marília Mendonça afirmava o mesmo: "eu disse que te amava ontem". Expor sentimentos nessa correria tamanha, nessa confusão de tanto sentir, parece ser a única coisa que fica quando alguém se vai.

A gente acha que se acostumou à dor: bobagem. Só ficamos mais sensíveis ainda. Mas estamos aprendendo, das maneiras mais duras que existem, enfileirando despedidas, que é normal sentir. Lilian RIbeiro mostrou isso na mesma GloboNews na segunda: viva, lutando, ela multiplicou a esperança. Depois, a gente engole o choro, como fez a equipe do Conexão nessa quinta, e continua trabalhando.

Que possamos achar tempo para declarar o amor aos amigos e familiares para recuperarmos também o gosto pela alegria. Temos sido sobreviventes. O mínimo que a gente pode fazer é viver direitinho.

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