Topo

Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Galvão Bueno fala sobre machismo e equidade de gênero na TV aberta: que bom

Galvão Bueno ao lado de Marcos Uchôa, Daiane dos Santos, Flávio Canto e Fabi na abertura das Olimpíadas - Reprodução/TV Globo
Galvão Bueno ao lado de Marcos Uchôa, Daiane dos Santos, Flávio Canto e Fabi na abertura das Olimpíadas Imagem: Reprodução/TV Globo

Colunista do UOL

23/07/2021 12h15

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Galvão Bueno tem 71 anos. Podia usar a idade de desculpa para não acompanhar as mudanças do mundo, como tantas pessoas que vemos por aí. Não foi o que vimos na abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, na manhã dessa sexta (23). Um narrador consciente e emocionado falou das mulheres durante as várias horas da transmissão da Abertura.

Com desenvoltura, Galvão falou da importância da igualdade de gênero no esporte diversas vezes durante a transmissão Você vai dizer que é o mínimo, e está certo, mas nem todo mundo faz.

Machismo centenário

Os Jogos Olímpicos modernos tem uma história centenária de machismo. Pierre de Fredy, criador dos Jogos na era moderna em 1900 e conhecido como Barão de Coubertin, era radicalmente contra a presença de mulheres no esporte.

Galvão citou o francês, o chamando de machista ao vivo e reproduzindo a frase que ele disse há 120 anos: "Uma olimpíada com mulheres seria impraticável, desinteressante, inestética e imprópria." Tem mais: Coubertin dizia que era "indecente ver mulheres torcendo-se no exercício físico do esporte".

O cara odiava tanto as mulheres que se demitiu nos Jogos de Amsterdã quando permitiram a presença de 6 atletas do sexo feminino. "Ah, mas foi há um século", alguém diz. Tem muito rastro disso ainda no esporte: a Unesco lançou um estudo essa semana que afirma que apenas 4% das notícias sobre esporte no mundo abordam modalidades femininas. Vou repetir: só 4%! A julgar pelo tempo que se falou disso na transmissão, Galvão parece disposto a mudar essa estatística. Todo mundo envolvido na cobertura deveria estar.

Obrigação de acompanhar

Daiane dos Santos comentou que era bacana ver mulheres segurando a bandeira dos países ou ver duplas masculinas e femininas se revezando nessa função. "Muito legal esse momento em que o mundo está mudando e o esporte está acompanhando essas mudanças", disse a ex-atleta.

Galvão completou, certeiro: "O esporte tem mesmo obrigação de acompanhar essas mudanças".

Além disso, afirmou ter zerado a vida ao entrevistar as skatistas Rayssa Leal e Letícia Bufoni, empolgadíssimo. Falou longamente sobre o futebol feminino (mais até do que da seleção de homens).

Comentou — se segurando para não chorar — o fato de Pelé mandar mensagem para a Marta dizendo que ela tem uma importância mundial ao influenciar as pessoas. Enquanto o mercado não valoriza o patrocínio da jogadora de maneira justa, Galvão a coloca no mesmo patamar de Pelé: 'O Rei e a Rainha", disse com voz embargada. Que momento.

Tudo isso, claro, é o mínimo. É esperado que um narrador da importância de Galvão que esteja antenado com o tema. Ele foi inclusive criticado (como sempre) acusado de mansplanning nas redes sociais: falou muito enquanto tinha duas comentaristas mulheres ali (Daiane dos Santos e Fabi Alvim). Mas ele era o condutor, com Marcos Uchôa. É esperado que fale mais do que qualquer outro profissional da cobertura.

Esporte é bonito demais. Que seja o símbolo de mais mudanças rumo a justiça da igualdade de gênero. Não tem outro caminho, não.

Galvão já está com a gente. Meu olho enche de lágrima. Quem vem também?

Você pode discordar de mim no Instagram.