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Lucas Pasin

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Globo demite jornalista envolvido em investigação do Ministério Público

Colunista do UOL

17/05/2022 18h24Atualizada em 18/05/2022 15h35

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Tyndaro Menezes, chefe do núcleo de jornalismo investigativo da TV Globo, foi demitido após 30 anos na emissora.

O jornalista teve seu nome citado em conversas com Ângelo Ribeiro de Almeida Júnior, ex-titular da Delegacia Fazendária fluminense, durante investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público do Rio. O caso busca entender se há envolvimento de Tyndaro em negócios suspeitos na área da Saúde, intermediados pelo delegado, que foi denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro. As conversas estão sendo averiguadas serão levadas ao Ministério Público Federal.

"Sobre as conversas mencionadas entre o jornalista e o delegado, o Gaeco esclarece que esses trechos foram extraídos das medidas cautelares manejadas no decorrer da investigação e serão encaminhados, nos próximos dias, ao MPF para investigação específica por, inicialmente, serem de atribuição federal", informou o Gaeco.

A Globo confirmou a demissão de Tyndaro, mas disse à coluna que não comenta questões que possam envolver compliance, responsável por tratar denúncias, conflitos de interesses, fraudes, subornos e desvios de conduta, entre outros assuntos.

"O profissional citado não está mais na empresa. A Globo não comenta questões relacionadas a compliance. Reitera que tem um Código de Ética, que deve ser seguido por todos os colaboradores, e uma ouvidoria pronta para receber quaisquer relatos de violação. Todo relato é apurado criteriosamente assim que a empresa toma conhecimento e as medidas necessárias são adotadas", informou, em nota, a comunicação da Globo.

A coluna tenta contato com Tyndaro Menezes e Ângelo Ribeiro para comentarem a investigação. O espaço segue aberto.

Investigação envolve propina de R$ 2 milhões

O MPRJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), por meio do Gaeco, denunciou à Justiça, no dia 12 de maio, o empresário Arthur César de Menezes Soares Filho, conhecido como Rei Arthur, e o delegado Ângelo Ribeiro de Almeida Junior por corrupção e lavagem de dinheiro. Com essa denúncia, o MPRJ obteve o mandado de prisão preventiva contra o primeiro acusado.

De acordo com a denúncia, Arthur César de Menezes Soares Filho é acusado do pagamento de propina, em 2014, a Ângelo Ribeiro de Almeida Junior, que na época comandava a Delegacia Fazendária. Os valores chegam a R$ 2 milhões. O delegado comandou a delegacia entre 2008 e 2015.

Tyndaro Menezes, ex-chefe de jornalismo investigativo da TV Globo, se tornou alvo da mesma investigação após o MPRJ encontrar conversas que citam o jornalista e Ângelo Ribeiro de Almeida Junior. Essas conversas, conforme o Gaeco confirmou ao UOL, foram extraídas das medidas cautelares manejadas no decorrer da investigação e podem dar a entender possível envolvimento do profissional na denúncia de corrupção. Elas serão encaminhadas, nos próximos dias, ao Ministério Público Federal.

Segundo o MPRJ, Ângelo Ribeiro foi recentemente afastado da Delegacia da Polícia Civil e da Assembleia Legislativa do Rio, onde exercia cargo de assessoramento, entre outras medidas cautelares.

A informação sobre a investigação do MPRJ foi publicada em primeira mão pela Marina Lang, da Sputnik Brasil, no Twitter.

Tyndaro coleciona diversos prêmios por reportagens ao lado de nomes como Tim Lopes, Cristina Guimarães, Flavio Fachel e Renata Lyra. Ele recebeu o Emmy pela cobertura do ataque da Polícia Militar ao Complexo do Alemão.

O jornalista começou como office boy pagando contas da emissora, como luz e água. Em entrevista para o blog Revista Plano, ele contou que foi a partir daí que resolveu fazer faculdade — ao mesmo tempo, cavando outros cargos dentro da emissora até parar no jornalismo investigativo.

Semana passada, a apresentadora Michelle Barros pediu demissão da Globo. Antes foram Carlos Tramontina e Chico Pinheiro, entre outros nomes que estavam no canal há décadas.